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Japão não declarou ivermectina mais eficaz do que vacinas contra covid-19

Tuíte com trecho de vídeo mente ao dizer que o país asiático declarou que a medicamento tem eficácia; no WhatsApp, circula gravação com outras falsidades

Por Da Redação 14 jul 2022, 18h29
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  • Tuíte com trecho de vídeo mente ao dizer que o Japão declarou que a ivermectina tem mais eficácia contra a covid-19 do que os imunizantes. No WhatsApp, circula gravação mais longa com outras afirmações falsas, como a de que o governo do país vai substituir as vacinas pelo medicamento antiparasitário. A Embaixada do Japão no Brasil disse ao Comprova que as informações não procedem.

    Conteúdo investigado: Tuíte com a legenda “Japão declara ao mundo que a ivermectina é mais eficaz que a vacina. E agora, como fica?”. O texto acompanha vídeo que não cita o medicamento, mas diz que o país “está mais inclinado para reconhecer as lesões das vacinas e a procurar outras opções de tratamento”. Uma gravação mais longa, citando o medicamento e dizendo que o governo do país asiático o usará para substituir a vacina, circula no WhatsApp.

    Onde foi publicado: Twitter e WhatsApp.

    Conclusão do Comprova: É falso um post que circula nas redes sociais afirmando que o Japão declarou que a ivermectina é mais eficaz do que os imunizantes no combate ao novo coronavírus. Segundo vídeo publicado junto com a mensagem falsa, o país asiático “está mais inclinado a reconhecer as lesões das vacinas e a procurar outras opções de tratamento em comparação com outras nações desenvolvidas”, o que também não é verdade.

    A gravação é um trecho de um vídeo que diz que o Japão substituirá a vacina pela ivermectina, remédio antiparasitário que, ainda segundo o narrador, se tornou uma opção de tratamento e pode ser usado como cura contra a covid-19. No entanto, não há evidências científicas que o medicamento funcione contra a doença.

    Procurada pela reportagem, a Embaixada do Japão no Brasil afirmou que “não há, até o momento, nenhum processo de aprovação da ivermectina como medicamento para o tratamento da covid-19 no país”. Além disso, o governo japonês, em seu site, diferentemente do que afirma o conteúdo verificado, recomenda que as pessoas se vacinem.

    Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

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    Alcance da publicação: O post aqui verificado teve até 14 de julho de 2022: 14,8 mil curtidas, 298 comentários e mais de 4.700 compartilhamentos.

    O que diz o autor da publicação: A publicação foi feita por um perfil no Twitter que não permite o envio de mensagens. O Comprova localizou o autor no Instagram e tentou contatá-lo, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

    Como verificamos: Para obter as informações foram feitas pesquisas no Google que levaram aos sites do Ministério da Saúde e da Agência de Produtos Farmacêuticos e Dispositivos Médicos (Pharmaceutical and Medical Devices Agency; PMDA) do Japão. Nestes links, foi possível verificar os medicamentos liberados e as vacinas utilizadas para combater o coronavírus no país.

    O Comprova também contatou, por e-mail, a Embaixada do Japão no Brasil. Além de responder os questionamentos da reportagem, o órgão enviou links de páginas oficiais vinculadas ao governo local nas quais é possível obter informações sobre vacinas e tratamento da doença. Para saber dados gerais sobre a pandemia na nação asiática, a equipe consultou o site do Ministério da Saúde japonês e o Our World in Data.

    Japão e ivermectina

    “O governo do Japão não determinou o uso da ivermectina como tratamento para a covid-19 em vez da vacinação. Não há, até o momento, nenhum processo de aprovação da ivermectina como medicamento para o tratamento da covid-19 no Japão”, afirmou ao Comprova a Embaixada do Japão no Brasil.

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    A ivermectina também não consta de uma lista de drogas aprovadas para o tratamento do coronavírus, de acordo com uma relação de substâncias aprovadas pela PMDA. Na mesma lista também é possível verificar os imunizantes que são utilizados e aceitos no país.

    Segundo a página da PMDA, as drogas aprovadas para a covid-19 pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão (Ministry of Health, Labour and Welfare of Japan – MHLW), após março de 2020, com revisão científica da agência são: Redemvisir, Baricitinibe, Casirivimabe/imdevimabe (uso combinado), sotrovimabe, molnupiravir, Tocilizumabe, e Nirmatrelvir/Ritonavir também administrados em conjunto.

    O vídeo

    Na parte superior direita do vídeo aparece um logo que, em uma busca no Google, mostrou ser da The Frustrated Indian (TFI Global), empresa de comunicação indiana.

    Em seu site, a corporação diz que, por mês, 8 milhões de pessoas lêem os artigos publicados em inglês ou em hindu no site da TFI Media e que cerca de 30 milhões de pessoas assistem aos vídeos da plataforma.

    A companhia afirma ter sido criada para fornecer uma narrativa alternativa aos meios de notícias convencionais e que existe para mudar a narrativa global.

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    A gravação se inicia com uma voz dizendo que “o Japão disse, em alto e bom som, não às campanhas de vacinação das grandes farmacêuticas com um pequeno mas notável passo”. Segundo o conteúdo, o mundo descartou a ivermectina “sem cerimônia até agora, mas o Japão demonstrou que o medicamento pode ser usado como uma cura mais eficaz e pode ser um substituto permanente das vacinas” contra a covid-19.

    O motivo pelo qual os países não divulgam que o remédio antiparasitário seria a cura é, ainda de acordo com o vídeo, porque as nações firmaram acordo com a farmacêutica Pfizer para a compra de vacinas. “Mesmo que seja encontrada uma cura para a covid-19, o contrato não pode ser anulado”, diz o narrador.

    Ivermectina e covid

    “O uso da ivermectina para covid-19 não está previsto em bula e a utilização off label (quando um medicamento é utilizado para um tratamento diferente do recomendado na bula), até o momento não teve o respaldo das agências reguladoras, bem como do fabricante do medicamento”, afirma a mais recente nota técnica encontrada no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em relação ao remédio, de março de 2021.

    O documento destaca ainda que resultados “não parecem ser suficientes para suportar recomendação de uso da ivermectina no tratamento de pacientes com covid-19, sendo que a recomendação da OMS para que a ivermectina seja utilizada, apenas, em protocolos de pesquisa clínica parece ser adequada”.

    Na bula do remédio, é explicado que a ivermectina é um medicamento que atua contra várias espécies de parasitas e vermes.

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    Pandemia no Japão

    De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão, o país registrou 9.790.789 casos domésticos de covid-19 até 13 de julho. O número de mortes confirmadas que tiveram relação com a doença era de 31.437 até a mesma data. Além disso, outros 31.170 óbitos continuam sob investigação.

    As autoridades sanitárias japonesas já aprovaram o uso de quatro imunizantes de diferentes farmacêuticas: Pfizer, aprovada em fevereiro de 2021; Moderna e Astrazeneca, em maio de 2021; e Novavax, em abril de 2022.

    A vacina da Pfizer direcionada ao público com idade entre 5 e 11 anos foi aprovada em janeiro deste ano, segundo o ministério.

    Embora tenha enfrentado dificuldades no início da vacinação, tendo aprovado o primeiro imunizante apenas em fevereiro de 2021, cerca de dois meses depois de países como Reino Unido e Estados Unidos e um mês depois do Brasil, atualmente o Japão está entre os países que mais imunizaram. De acordo com o Our World in Data, site da Universidade de Oxford (Inglaterra) que monitora dados relacionados à covid-19 no mundo, 81,25% dos japoneses foram vacinados com pelo menos duas doses até o último dia 11 de julho. Segundo a plataforma, o percentual de pessoas parcialmente imunizadas é de 82,35%.

    O autor do post

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    Nas redes sociais, o criador do perfil afirma ser economista e empresário. Define-se como “terrivelmente cristão e entusiasta do Brasil”.

    Na conta do Twitter, criada em janeiro do ano passado, compartilha diversos posts com críticas aos pré-candidatos à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Simone Tebet (MDB), bem como elogios a falas e atitudes do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de ações do governo, como a redução de ICMS nos estados.

    No Instagram, a última publicação data de junho de 2020 e é uma repostagem de Bolsonaro. Não foram encontradas outras checagens ou notícias sobre o economista.

    Como informado anteriormente, ele foi procurado pela reportagem, mas não respondeu.

    Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. O post verificado aqui traz risco à população ao mentir/enganar sobre o uso da ivermectina contra a covid. O conteúdo também é perigoso por afirmar que as vacinas não são seguras – até o momento, elas são uma das ferramentas mais eficazes contra a doença.

    Outras checagens sobre o tema: Ao menos desde novembro de 2021, outras agências já checaram conteúdos que afirmavam que o Japão ia apostar na ivermectina contra a covid, como AFP Checamos, Lupa, Fato ou Fake, do G1, Yahoo, Estadão Verifica e Reuters.

    O antiparasitário também apareceu em diversas checagens do Comprova, como a de post que engana ao relacionar distribuição dele ao controle da pandemia em estado da Índia e a de conteúdo que afirma erroneamente que a Universidade de Oxford encontrou “fortes indícios” da eficácia do medicamento contra a covid. A vacina foi alvo de outras verificações do projeto, como a de vídeo que mente ao afirmar que ela causa câncer e tem relação com herpes-zóster, a de post que engana dizendo que ela fez “explodir” doenças cardíacas em crianças e a de conteúdo que usa texto que manipula dados para atacar sua segurança.

    A investigação deste conteúdo foi feita por Folha de S. Paulo, CNN Brasil, Jornal do Commercio e O Povo, e a verificação por imirante.com, Correio Braziliense, UOL, Metrópoles, Diário do Nordeste, SBT, O Popular, Correio de Carajás, piauí, O Estado de S. Paulo, Band News, CBN Cuiabá, O Dia e A Gazeta.

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