Na clássica abertura de Ana Karenina, Leon Tolstoi escreve que ‘todas as famílias felizes são iguais; as infelizes o são cada uma à sua maneira’. Pode-se dizer o mesmo dos presidentes brasileiros. Quando estão no auge, os autoelogios, as arrogâncias, as afirmações de conexão direta com o povo são similares em tucanos, petistas e militares. Quando estão em crise cada um sofre de seu jeito.
O general João Figueiredo (1979-85) perdeu o rumo e o governo ao não punir os terroristas do Riocentro e passou longos quatro anos navegando sobre a maior dívida externa do mundo, a ameaça da hiperinflação e denúncias de corrupção. Enfrentou a crise com o ânimo da seleção brasileira depois do quarto gol da Alemanha. Fernando Collor (1990-92) exercia a presidência como um apostador que joga todas as fichas num único número. Sequestrou de uma vez todos os depósitos em contas poupança e de investimento, o equivalente a um terço de todo o PIB brasileiro. O plano desabou tão forte quanto traumatizou uma geração. Quando surgiram as denúncias de corrupção do próprio irmão, Collor era um general sem Exército, um Ricardo III trocando seu reino por um cavalo.
Professor, FHC (1995-2002) gostava de assistir o debate intelectual de alunos seguidores, mas tinha a dificuldade de se equilibrar entre as posturas opostas dos práticos Pedro Malan e Gustavo Franco pelo câmbio fixo do real com o dólar e dos teóricos Pérsio Arida e André Lara Resende. Quando finalmente decidiu pela flutuação cambial, foi uma catástrofe e o País precisou do socorro do FMI. FHC perdeu o controle da própria sucessão.
Sobrevivente de secas e enchentes, Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) usou a mão do Estado para criar o Bolsa Família para atenuar a denúncia do mensalão. Em 2008, como crack financeiro mundial, usou de novo o peso estatal. Deu certo, mas quando as se ruas se levantaram em 2013, Dilma Rousseff (2011-16) tentou repetir a receita sem ver que o tempo era outro. O remédio de antes havia virado placebo e a doença foi a maior recessão da história. Michel Temer (2016-18) teve a presidência decretada morta duas vezes, quando foi flagrado em conversas pouco republicanas com um empresário e quando caminhoneiros pararam o País. Entregou o poder ao Congresso e concluiu o mandato.
Jair Bolsonaro enfrenta uma tempestade perfeita. O Brasil será um dos epicentros da pandemia de coronavírus e sua postura negacionista é responsável em parte pela propagação da doença. A recessão dos próximos meses fará o brasileiro ter saudade dos anos Dilma. Milhões perderão seus empregados e milhares irão à falência. E há a crise política, gestada nos vários atos pró-ditadura e exposta agora pelas denúncias de Sergio Moro de que interferência presidencial para proteger seus filhos de investigação policial. Bolsonaro tem vários exemplos de como não lidar com essa crise tripla.