O escritor Olavo de Carvalho morreu, mas o olavismo vai continuar influenciando a política brasileira por anos. Mesmo com o desapontamento do líder pelo presidente Jair Bolsonaro não ter fechado o Supremo e, pior!, ter negociado os principais ministérios com o Congresso, o olavismo deu ao bolsonarismo um modo de pensar e agir que se tornou a alma do governo.
“Olavo de Carvalho criou o caldo de cultura reacionária na ideologia e neofascista na ação política de rede social que ajudou o Bolsonarismo a chegar ao poder”, analisa o professor da UERJ Christian Lynch. “O que marca o governo Bolsonaro não é o liberalismo do Paulo Guedes, nem o estatismo dos militares, mas a contra-política pública do olavismo. É o diretor do Ministério da Saúde que solta nota técnica defendendo a cloroquina e contra a vacina, é o Mário Frias e o desmonte na Cultura, é o Sergio Camargo atacando o movimento negro na Fundação Palmares… O olavismo não tem um projeto de uma única estrada, mas tem um projeto cultural reacionário, a ideia de que o estado existe para preservação da família patriarcal e a igreja”.
Lynch, autor do clássico “Pensamento Político Brasileiro”, prevê um “olavismo sem Olavo”, no qual vários ex-alunos vão se incorporar ao bolsonarismo. “Nesse momento, eles não têm opção e precisam da proteção do bolsonarismo nos inquéritos do Supremo Tribunal Federal”.
“Bolsonaro ainda precisa dos olavistas”, argumenta a escritora Michelle Prado, autora de “A tempestade ideológica”, o melhor livro sobre a atual extrema direita brasileira. “Eles continuam influentes nas redes porque têm um trabalho que precede o próprio Bolsonaro. Foi o Olavo de Carvalho que criou essa extrema-direita brasileira, que transforma a vida cotidiana numa guerra cultural. Foi o Olavo que apresentou a alt-right americana ao bolsonarismo. Bolsonaro precisa manter acesa a ideologia olavista para manter o engajamento desta extrema-direita”.
Prado acredita que esse cálculo está por trás do tuíte de pesar de Bolsonaro pela morte, inédito ao longo de toda a presidência. “É uma forma de atenuar as cisões (das críticas do escritor ao presidente) e se colocar como o herdeiro do movimento. A extrema direita é muito fragmentada e, naturalmente, haverá uma disputa pelo lugar do Olavo, mas a ação política seguirá com a família Bolsonaro. Pelo menos até os olavistas encontrarem um candidato mais extremista”.