Chega a hora que é preciso chamar as coisas pelo seu nome: os atos convocados por Jair Bolsonaro para o 7 de Setembro são um ensaio para um golpe de Estado. Ponto. Nas próximas semanas, o país estará sob risco institucional.
Bolsonaro quer reuniu 2 ou 3 ou até 5 milhões de pessoas e afirmar que esta mobilização prova que o povo está do seu lado para fazer valer a sua vontade sobre a Justiça, o Congresso e quem mais se puser no caminho. Bolsonaro quer fazer do 7 de Setembro a versão tropical da marcha sobre Roma de Benito Mussolini em 1922, reciclado com o autogolpe de 1992 de Alberto Fujimori sob o pretexto de que Legislativo e Judiciário não o deixam governar.
Monitoramento nas redes sociais nesta semana mostra que é alta a possibilidade de Bolsonaro reunir milhões, fundamentalmente pelo intenso trabalho dos pastores das igrejas pentecostais. Nas Marchas por Jesus realizadas todos os anos, essas igrejas facilmente batem nos 4 milhões de fiéis nas capitais, mas com Bolsonaro o discurso é apocalíptico. Nas correntes de WhatsApp evangélicas, são os valores da família que estão em jogo, não Bolsonaro. O 7 de Setembro está sendo apresentado como dia decisivo para a defesa do cristianismo sobre a corrupção, o comunismo e leis que desvirtuariam a família. “Supremo é o País cujo Deus é o Senhor”, terminam as mensagens. Desde as eleições de 2018 não se via uma mobilização digital tão forte dentro das igrejas evangélicas.
A linha do discurso nas redes sociais acusa como “ataque à liberdade de expressão e à democracia” as ordens do presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes de prender bolsonaristas por defenderem o golpe militar.
Por este raciocínio, Alexandre de Moraes estaria abusando dos seus poderes ao investigar por ser, ao mesmo tempo, vítima, investigador e juiz do processo sobre ataques ao STF. Seria, portanto, o ministro Alexandre Moraes e não Bolsonaro que estaria contrariando a Constituição e ameaçando a liberdade. Por supuesto, o seu próximo passo de Moraes seria cercear a liberdade de expressão dos pastores evangélicos (não há nenhuma indicação disso, mas quem se importa com a verdade?!).
Por uma leitura enviesada da Constituição pelos bolsonaristas, com os poderes em disputa, caberia às Forças Armadas o papel de Poder Moderador, intervindo a favor do presidente.
O irônico é que a cada vez que Bolsonaro força a linha da democracia e o Supremo reage, melhor para o discurso bolsonarista. Cada ação do STF ou do Senado para conter o presidente apenas confirma o que ele está dizendo e serve para incitar a massa.
Os atos de Setembro não implicam que o autogolpe pretendido por Bolsonaro vá ocorrer nas próximas semanas, mas que ele está reunindo a sua tropa e preparando a opção. Por mais que digam que não acreditam em pesquisas, há uma consciência de que existe um “já perdeu” nas hostes. Reunir milhões poderia, no melhor dos casos, reanimar a turba para uma campanha eleitoral com base na intimidação e na ameaça de golpe antes de ir de fato para a quartelada.
O problema do monstro é que chega um momento que você não o controla mais. No sábado (21/08), Donald Trump foi vaiado em um comício no estado do Alabama ao defender a vacinação contra a Covid. Trump chegou a fazer um sinal de “não” com a mão, em direção a quem o estava vaiando, mas na sequência disse: “Não, ok, ok. Vocês têm suas liberdades, eu acredito. O que você tem de fazer você tem que fazer. Mas eu recomendo: tomem a vacina! Eu tomei e é boa. Tomem a vacina”, disse no ato ̃Salve a América” em Cullman, dois dias após a cidade decretar estado de emergência devido ao aumento no número de mortes por Covid-19. Na sequência Trump causou risadas em parte da plateia ao dizer: “Se não funcionar, vocês vão ser os primeiros a saber, ok?”.
Em menor escala, o deputado Eduardo Bolsonaro sofreu o mesmo ao postar nas redes sociais foto sua se vacinando foi atacada por milhares de bolsonaristas que o acusaram de estar “traindo” o pai. Bolsonaro está alimentando um ódio que pode facilmente descambar para a violência no dia 7 de Setembro se ele não colocar as tropas militares para agredir o STF ou o Congresso.