Os Anéis de Poder, nova superprodução do Prime Video, da Amazon, retrata um mundo baseado nos apêndices da trilogia O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien. Quais os desafios para dar forma a esse universo de um jeito original, mas fiel à visão do autor? Esse desafio foi parte do que me atraiu no projeto. A base deixada por Tolkien é muito sólida e consistente, pois o conteúdo dos apêndices de O Senhor dos Anéis deu início aos eventos principais da série. Como fã, foi uma delícia retratar cenários visualmente inéditos. É o caso do Khazad-dûm, lar dos anões no interior de uma montanha. Ele estava em ruínas na trilogia adaptada nos cinemas por Peter Jackson, mas na série surge em seu ápice.
Seu currículo tem desde terror sobrenatural, caso do ótimo O Orfanato, até superproduções hollywoodianas como Jurassic World, todos com um pé na fantasia. Por que o interesse pelo gênero? A fantasia é uma lente eficaz para retratar a realidade. Ela funciona como um espelho no qual podemos enxergar nossa humanidade e a sociedade de forma mais clara. Tolkien foi uma inspiração que me fez gostar desse gênero e, agora, vejo que minhas experiências anteriores me prepararam para essa série.
Ter um orçamento de 1 bilhão de dólares deve facilitar o trabalho, não? É muito bacana ter cenários enormes e uma estrutura invejável, mas, no fim das contas, a pressão vem da qualidade da narrativa. Uma história bem construída e um bom roteiro são essenciais seja lá qual for o orçamento.
Ao contrário dos filmes de Peter Jackson, o elenco da série é bem diverso. Foi uma escolha feita para atender à correção política? Nós escolhemos os atores certos para cada personagem, não estávamos procurando por uma cor ou nacionalidade específica. O processo de testes foi muito longo e os escolhidos se encaixaram bem no que os personagens exigiam.
Como responde aos ataques racistas sofridos por atores do elenco, vindos de fãs ferrenhos de Tolkien? Quem lê Tolkien, de fato, nota que ele celebra a diversidade. No final da história, a paz foi uma celebração de todas as raças se unindo para combater o mal. A mensagem do autor é sobre os sacrifícios feitos para combater a ascensão do mal, do autoritarismo e da repressão. E isso se relaciona com nosso tempo hoje — e com esses ataques, por exemplo. Mesmo escrita há mais de setenta anos, a obra de Tolkien é atemporal.
Publicado em VEJA de 14 de setembro de 2022, edição nº 2806