Símbolo da velha TV, bailarinas do Faustão viraram trunfo incômodo
Com dançarinas demitidas, programa de Fausto Silva na Band pode extinguir uma tradição de décadas — mas que não acompanhava o presente
Após a demissão de todas as bailarinas do Faustão na Band, o futuro do balé de Fausto Silva, uma alegoria da televisão brasileira que existe desde abril de 1994, está incerto. A emissora ainda não definiu os rumos da atração em 2023, mas o programa de auditório pode ficar mais centrado em conteúdo jornalístico e prestação de serviço — sem as dançarinas de fundo. Tradição de três décadas, a presença das musas no palco virou um artifício incômodo do entretenimento na atualidade. As bailarinas surgiram no Domingão do Faustão (1989-2021), da Globo, há quase três décadas. Desde a estreia do programa, profissionais de Educação Física faziam parte da arquibancada, até que a atração passou a ter seu próprio corpo de baile coreografado por Sílvia Andrade. Vestido com maiôs de ginástica, o grupo começou a apresentar sequências de movimentos aeróbicos. Na velha TV, o conceito de usar mulheres seminuas para atrair o público masculino era completamente normalizado.
A seleção das dançarinas sempre se baseou em critérios relacionados à aparência física, com mulheres de corpos esculturais e desenvoltura para sorrir e acenar enquanto Fausto comandava o show, com direito a interações com o apresentador. Boa parte das centenas de profissionais que passaram pelo balé do Faustão se envolveram em projetos de conteúdo erótico, como ensaios fotográficos sensuais, o que liga com esse apelo sensual objetivo do programa. Com o passar do tempo, algumas bailarinas foram promovidas a repórteres, assistentes de palco e parceiras de participantes do Dança dos Famosos, competição de dança com artistas da emissora. Poucas ganharam notoriedade nacional, como a apresentadora Sabrina Sato e a atriz Juliane Alves.
Com o avanço das discussões sobre feminismo, empoderamento feminino e a objetificação excessiva da mulher, a sociedade, hoje, se divide entre defender que a mulher pode e deve trabalhar com o que quiser contra críticas sobre o uso de corpos femininos para mero entretenimento masculino. Por causa dessas questões, é fácil perceber que a continuação de um balé de moças com roupas curtas em programa de auditório se tornou cansativo, afinal, são 30 anos de uma tradição que apenas serve para que as dançarinas conquistem vagas em realities show ou produzam conteúdo nas redes sociais.
Após um ano conturbado fora da Globo, Fausto Silva continuará na Band, onde assinou contrato até 2025. Sem dançarinas e com conteúdo jornalístico, entretanto, o apresentador acabará comandando uma revista eletrônica.