Na paisagem vasta de Veldt, lua que orbita um gigante planeta gasoso vermelho, os habitantes vivem de maneira pacata, cultivando grãos para a subsistência e o comércio. Imersa nessa rotina bucólica, a população de Veldt tem sua paz interrompida pela chegada de visitantes inesperados do Mundo Mãe, sede do império poderoso que governa o universo com punho de ferro. Quando soldados ordenam que os agricultores forneçam a eles sua produção, condenando os locais à inanição, a misteriosa Kora (Sofia Boutella) se rebela e embarca em uma viagem interplanetária ao lado de Gunnar (Michiel Huisman), congregando corajosos sem nada a perder em uma rebelião quase suicida contra o império opressor. “Trabalhei essa ideia por muito tempo, em vários formatos. Surgiu como algo derivado de Star Wars, depois virou um projeto de série, até eu finalmente decidir fazer um filme, que é o que eu sei fazer”, contou a VEJA Zack Snyder, a mente criativa por trás de Rebel Moon, saga de ficção científica que chega à Netflix na sexta-feira 22, com uma sequência já anunciada para 2024.
Liga da Justiça de Zack Snyder
Batizada com o subtítulo A Menina do Fogo, a primeira parte da aventura demarca também o início de uma saga inteiramente concebida por Snyder fora dos domínios dos super-heróis. Lançado à fama graças aos zumbis de Madrugada dos Mortos (2004), Snyder se consolidou nas telas por meio de adaptações de quadrinhos da DC, com tramas violentas e sombrias que despertam amor e ódio na mesma intensidade. Goste-se ou não (e há no mundo mais gente que gosta, definitivamente), Snyder infundiu na ação e na aventura uma marca própria: com sua explosão característica de testosterona, sangue e lutas altamente coreografadas, os filmes do diretor são inconfundíveis. Ao acumular a direção e a criação de Rebel Moon, ele agora abre um caminho promissor para a expansão de seu universo particular — algo que se poderia chamar de um “Snyderverso”.
Nos últimos anos, o streaming deu ao diretor a chance de desenvolver ideias autorais e voltar as lentes para outros temas de apelo pop inescapável: antes de se dedicar à ficção científica politizada, Snyder retomou a paixão pelos mortos-vivos no sanguinolento Army of the Dead: Invasão em Las Vegas, lançado em 2021 na Netflix. Menos consistente do que o reino de zumbis, o filme inaugural de Rebel Moon peca por seu roteiro deveras previsível, mas o visual impressionante e as dezenas de planetas e culturas a serem exploradas dão a Snyder uma folha em branco cheia de possibilidades para o futuro de sua grife. “Essa é a melhor parte de um projeto original. Não temos uma série de livros com uma história encerrada. O que temos feito agora é descobrir aonde essa história pode nos levar, e há várias ideias que eu acho que o público vai gostar de ver”, diz o diretor.
O desvio de rota veio a calhar. Nos últimos anos, os heróis da Marvel e da DC dominaram os cinemas, mas a overdose de produções do gênero transformou a tarefa de renovar aquela exaurida fórmula de sucesso numa missão quase impossível. Nesse contexto, tramas como Rebel Moon apresentam-se como narrativas alternativas que, com um tanto de esforço, buscam preencher as lacunas abertas no campo da fantasia e da ficção científica. “Um cenário de excesso dessas histórias no mundo ainda está longe de acontecer. Há muito a ser ofertado no gênero”, garante o cineasta. Não será pela falta de imaginação do Snyderverso que essa fonte vai secar.
“Estamos apenas começando”
Prestes a estrear seu novo universo na Netflix, Zack Snyder fala a VEJA sobre a trama e a crise dos filmes de heróis.
Rebel Moon é sobre pequenos agricultores que se rebelam contra a opressão de um império. Considerando os vários conflitos envolvendo a terra no mundo atual, como a trama dialoga com a realidade? O que quer que aconteça no mundo, podemos usar os mitos para nos enxergar neles. Qualquer saga dessa magnitude ressoa nas pessoas. Existem arquétipos atemporais, e eles são como são por um motivo. Sempre podemos virar o espelho para nós, porque a mitologia é uma metáfora da experiência humana.
O filme se junta a Duna como expoente das tramas intergalácticas. É uma nova era para o gênero? Eu não sei, mas é interessante pensar sobre isso. A ficção científica não tem tanta oferta quanto os filmes de super-heróis. Star Wars, Duna, Rebel Moon são tramas épicas, fantásticas e atingem nichos que os heróis ocuparam. Não sei se penso nisso como algo global, mas acho que podemos estar em um momento de transição.
Você falou sobre a grande oferta dos filmes de heróis. A fórmula está saturada? Acho que esses filmes precisam desafiar um pouco o público. As tramas de heróis estão em um momento em que se entende o gênero bem demais. As pessoas viram tantos filmes desse estilo que poderiam fazer suas próprias tramas de super-heróis.
Rebel Moon já tem uma sequência programada para abril de 2024. Como vê o futuro desse universo? É um futuro ilimitado. Temos um final aberto e sabemos para onde a história vai caminhar. É animador, pois estamos apenas começando.
Publicado em VEJA de 15 de dezembro de 2023, edição nº 2872
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