Desde que estreou na Netflix, no início do mês, a série francesa Lupin não deixou a lista de mais vistos da plataforma, consolidando-se como mais um fenômeno da gigante do streaming. Na trama, Assane Diop (Omar Sy) é filho de um imigrante senegalês que se suicidou depois de ser erroneamente acusado de roubar um colar de seu ex-patrão, o patriarca de uma influente família parisiense. Já na vida adulta, Diop descobre a armação dos ricaços e decide se vingar traçando um plano mirabolante para roubar a joia que deu origem a seu sofrimento. A inspiração para a façanha é a carreira criminosa de Arsène Lupin, um personagem célebre da literatura francesa.
Criado em 1905 por Maurice Leblanc, Lupin é uma espécie de Sherlock Holmes às avessas. Sua primeira aparição foi no conto A Detenção de Arsène Lupin, encomendado pela revista Je Sais Tout justamente como uma resposta ao sucesso do detetive inglês. Ao contrário de Holmes, o francês não estava interessado em combater crimes, mas em cometê-los da maneira mais rocambolesca possível. A disputa com Holmes era tão escancarada que Leblanc chegou a introduzi-lo em um de seus livros, o que levou Arthur Conan Doyle a entrar na Justiça para impedir que ele usasse o nome de seu famoso detetive. A solução do francês foi mudar o nome do investigador para um nada sutil Herlock Sholmes, e seguir se divertindo com a briga de gato e rato entre Lupin e Sholmes – sempre, é claro, com o triunfo do ladrão ao final.
Além das comparações com o inglês, o criminoso ganhou popularidade fisgando o público com uma sagacidade quase inacreditável e deboches com a burguesia francesa. O visual formal, sempre acompanhado de uma cartola e de um monóculo, lhe rendeu o epíteto de “ladrão de casaca”. Suas vítimas, aliás, eram sempre provenientes da alta aristocracia do país, e nunca os menos favorecidos – o que levantou comparações com o famoso ladrão Robin Wood. A história fez tanto sucesso que Leblanc nunca parou de escrever suas aventuras. Elas renderam 17 livros e cerca de 40 contos. Em entrevista à revista Variety, o parisiense Omar Sy chegou a dizer que o personagem é tão francês que é impossível crescer no país e não saber quem é Arsène Lupin. O ator ainda afirmou que o ladrão é o papel perfeito para atores, já que, além de “divertido, engraçado e elegante”, ele é um gênio do disfarce – quase um cameleão do crime, que muda sua aparência para se camuflar nos ambientes e realizar seus planos inacreditáveis.
Para além da literatura francesa e da série da Netflix, Lupin foi adaptado para o cinema. Nos anos 1930, a MGM lançou um filme baseado na obra de Leblanc, intitulado Arsène Lupin. Com John e Lionel Barrymore no elenco, o longa acompanhava a história de um detetive encarregado de capturar o misterioso ladrão, que sempre encontrava uma forma de se safar. O criminoso ainda ganhou uma releitura algumas gerações adiante, no mangá Lupin III e no anime de mesmo nome. A obra acompanha o neto do ladrão, que segue o legado do avô e lidera um grupo de criminosos.
Leblanc nasceu no dia 11 de dezembro de 1864, na França e ficou famoso como um escritor de contos. Alcançou o ápice da fama através das histórias de Arsène Lupin, e seguiu escrevendo e vivendo da fama do personagem até sua morte, aos 77 anos, em 1941.