Após uma noite de bebedeira, o canadense Eugene Levy é convencido a fazer o inimaginável para um homem de qualquer idade — e mais ainda para alguém de 76 anos: mergulhar num lago congelante nos confins da Finlândia, onde a temperatura chega a 20 graus negativos. A empreitada resume por que O Viajante Relutante, série já disponível na Apple TV+, destoa de forma hilária do padrão comum dos programas sobre turismo e aventura. Avesso a viagens em geral, o ator e humorista abomina a mera possibilidade de encarar um aeroporto lotado — que dirá a excruciante lista de afazeres em destinos “paradisíacos”: ele prefere relaxar em casa. “A ideia inicial era fazer um reality show sobre hotéis, mas logo rejeitei justamente porque estou longe de ser um turista animado. Então os produtores me convenceram de que eu poderia ser eu mesmo, rabugento e sincero, bem diferente dos apresentadores do gênero”, explicou Levy a VEJA.
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A arte de viajar
Com verve e inteligência, O Viajante Relutante demole um daqueles lugares-comuns que poucos têm coragem de questionar: a tendência humana de idealizar os roteiros de aventura realizados por conhecidos e famosos. Isso, até se descobrir na prática que o suposto prazer pode ser só uma ilusão — ou mico. Apesar da preguiça assumida, Levy se joga nessas novas experiências e provoca muitas risadas ao longo dos oito episódios da série, cada um gravado em um cenário exótico. O veterano corre de animais selvagens na África do Sul, caminha à noite em uma floresta infestada de bichos peçonhentos da Costa Rica, além de enfrentar o oceano cristalino, mas nem tão ameno assim das Ilhas Maldivas. “Finalmente entendi que é bom experimentar o novo. Tenho medo de altura e não estava animado para voar de helicóptero ou encarar cobras venenosas. Ter alcançado esses feitos me deixa orgulhoso”, diz ele.
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Difícil imaginar alguém mais improvável e, por isso mesmo, tão perfeito para esse choque de realidade turística. Com suas indefectíveis sobrancelhas grossas, Levy iniciou a carreira em comédias canadenses pouco conhecidas, mas ganhou fama planetária ao interpretar o papel de Noah Levenstein, pai do protagonista Jim de American Pie — a apimentada comédia colegial de 1999 que se transformaria em franquia com mais sete sequências. Mais recentemente, faturou vários prêmios Emmy com a sitcom Schitt’s Creek (2015-2020). Acostumado a viver personagens tímidos, o ator assume ter a mesma caraterística por natureza — e a usa como justificativa para sua aversão a conhecer novos lugares. Para ele, viagem boa é na TV — e do conforto de seu sofá.
Publicado em VEJA de 15 de março de 2023, edição nº 2832
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