Da varanda de um quartinho montado em uma laje, a adolescente Carol suspira por um futuro melhor enquanto admira a onipresente torre do relógio da estação de trem Júlio Prestes, no Bom Retiro, em São Paulo. No quarto, ela divide seus poucos pertences (cama, escrivaninha e um armário) com o almoxarifado do barzinho que sua tia Regina montou lá embaixo. Carol é filha de pai coreano com mãe brasileira, que já morreu. Criada pela tia, ela quer distância do país asiático após ter sido abandonada pelo pai. O problema é que o bairro paulistano abriga a maior colônia coreana do Brasil. Para aproveitar a febre do k-pop, sua tia transformou o barzinho em um café temático em homenagem aos ídolos do momento, o grupo coreano ACT, onde ela também trabalha para ajudar a tia. Certo dia, farta de tudo isso, Carol arremessa alguns objetos contra o guarda-roupa, mas algo mágico acontece. O armário é um portal para o dormitório dos integrantes do ACT, em Seul, na Coreia do Sul, que atravessam para o seu quarto e bagunçam ainda mais a vida da garota.
A cena de fantasia rocambolesca, acompanhada pela reportagem de VEJA, foi gravada na última semana em um estúdio de São Paulo e faz parte da série adolescente Além do Guarda-Roupa, um esforço da HBO Max em produzir conteúdo nacional para o streaming. A atração, que deverá estrear no ano que vem, acompanha a explosão da cultura asiática no país, com o sucesso dos grupos de k-pop (como o BTS) e dos doramas (as bem-sucedidas séries dramáticas asiáticas). A atriz estreante Sharon Blanche, de 23 anos, que interpreta a protagonista e também é filha de imigrantes coreanos, diz se identificar com sua personagem. “Na adolescência, a maioria dos filhos de imigrantes passa por essa fase de descoberta da identidade e tenta se afastar da cultura dos pais”, conta ela, que fala coreano fluentemente.
O melhor guia de k-pop real oficial
Na outra ponta estão os disciplinadíssimos atores coreanos Kim Woo Jin, Jae Chan, Jin Kwon e Lee Min Wook, que interpretam os músicos do fictício ACT. Todos eles toparam ficar quatro meses em São Paulo para fazer as gravações (e nenhum deles fala português). Três deles já foram integrantes de grupos reais de k-pop. O mais famoso, Woo Jin, interpreta o bad boy Kyung e faz par romântico com Sharon. Já Jin Kwon ainda é membro do Newkidd. Ao final, a ideia dos produtores é que o ACT extrapole a ficção e vire, quem sabe, um grupo de verdade. “A sensação de formar o ACT foi a mesma que tivemos quando estreamos em nossos grupos antigos”, disse a VEJA Woo Jin. “Convivemos aqui no Brasil da mesma forma quando estávamos em um grupo de k-pop da vida real”, completou Jae Chan.
K-Pop – Manual de Sobrevivência
O interesse por cultura coreana vem crescendo por aqui e explica o investimento da HBO Max. Durante a pandemia, o Brasil foi um dos maiores consumidores de doramas do mundo e grupos como o BTS têm no país uma de suas maiores bases de fãs do planeta. Fazem também sucesso por aqui as séries exportadas da Coreia para o mundo, como Round 6, e filmes premiados, como Parasita, que ganhou o Oscar de melhor longa em 2020. Para Silvia Fu Elias, diretora de Conteúdos Roteirizados da HBO Max, a nova série representa uma aposta de longo prazo do canal, com dez episódios de trinta minutos cada um. “A ideia é que haja uma segunda temporada e possa ser exportada para a Coreia”, diz. Desde que a HBO Max estreou no Brasil, em junho de 2021, treze projetos nacionais já estrearam, como o musical Onda Boa, com Ivete Sanglo, o reality Queen Stars, com Pabllo Vittar e Luísa Sonza, e a série Hóspede Americano. Até 2023, a previsão é que outras quarenta produções sejam lançadas. A Coreia nunca foi tão pop.
Publicado em VEJA de 20 de abril de 2022, edição nº 2785
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