Do alto de seu 1,93 metro de altura e quase 100 quilos de puro músculo, o ator havaiano Jason Momoa, de 42 anos, não demorou a ser encurralado no estereótipo do brutamontes acéfalo cujo coração, aparentemente, serve apenas para bombear sangue. Por debaixo dos grunhidos e do visual bárbaro do sanguinário Khal Drogo, papel que o lançou ao estrelato em Game of Thrones, Momoa é, na realidade, um paizão coruja, dono de tiradas sarcásticas e, segundo o próprio, bastante sensível. “Quem me conhece sabe quão mole eu sou”, disse ele em entrevista a VEJA via Zoom. A decisão de protagonizar o filme Justiça em Família, que acaba de chegar à Netflix, atesta o desejo do ator de mostrar sua faceta dramática, provando que os grandalhões também choram — e podem ostentar mais do que dez palavras no vocabulário.
Momoa interpreta Ray Cooper, um pai exemplar e marido apaixonado que desaba quando sua esposa, com câncer, morre sem ter acesso a um remédio de alto custo que poderia lhe dar mais tempo de vida. A ganância da empresa farmacêutica que produz o medicamento é personificada como a vilã da trama. Na caçada por vingança contra o laboratório, Cooper incomoda os poderosos, colocando a vida de sua filha (Isabela Merced) em perigo.
Khal Drogo – Coleção Game of Thrones
Questionado se o gosto pelo gênero de ação foi o que pautou sua carreira até aqui, Momoa usa seu afiado bom humor: “Você viu meu tamanho? Acha que alguém vai me chamar para uma comédia romântica?”. O havaiano não está só no nicho dos personagens à la Shrek — mas encabeça uma mudança paulatina e essencial que, em breve, pode, sim, colocá-lo numa produção açucarada. Entre idas e vindas, os fortões do cinema são parte da cultura hollywoodiana. Se nos anos 80 e 90 nomes como Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone representavam a força viril dos americanos, ainda sob a sombra da Guerra Fria, agora os marmanjos abraçam uma masculinidade mais afinada com os novos tempos.
Pop! Funko Liga da Justiça – Aquaman
A necessidade de adaptação começou lá em 1999, quando Matrix revolucionou os filmes de ação, tornando quase obsoleto o perfil brutamontes. Dwayne Johnson é um bom exemplo dessa mudança. Astro da franquia Velozes e Furiosos, ele vem se aventurando em filmes infantis, comédias e até dramas. O ex-lutador Dave Bautista, com 1,93 metro e mais de 130 quilos, também se adaptou à nova onda, assumindo os papéis do emotivo Drax, herói de Guardiões da Galáxia, e do pai preocupado com a filha num apocalipse zumbi em Army of the Dead.
Momoa segue a mesma jornada. Após estrear como um surfista bonitão na série Baywatch, em 1999, o havaiano só conseguiu outro papel relevante em 2011, com Game of Thrones — que, aliás, abriu portas para atores de tamanhos incomuns, como o fisiculturista Hafthór Júlíus Björnsson, intérprete do Montanha, com 2,06 metros de altura e 156 quilos. O carimbo definitivo do passaporte de Momoa para Hollywood veio com o super-herói bonachão Aquaman. Suas habilidades nos filmes de ação são indiscutíveis. Agora, ele quer mostrar que é mais que um corpinho (ops, corpão) bonito. Haja esforço.
Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752
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