Sugar é um suspense noir que destoa do seu currículo. Como se envolveu com o projeto? De fato é uma série que, se dependesse de mim, eu não faria, pois prefiro projetos mais pessoais. Mas eu estava a fim e me dei muito bem com o Colin (Farrell). Também estava disposto a ser um prestador de serviço, pois em geral sou produtor, função com muitos problemas a ser resolvidos. Pude voltar a atenção 100% para a cena, para os atores, e foi extremamente prazeroso.
Colin Farrell declarou que uma grande contribuição sua para o projeto foi a visão social sobre Los Angeles. Por que acha importante ver a cidade como um personagem? Não consigo ver uma história isolada. Ela está dentro de um contexto que, por sua vez, é carregado de conflitos. Quando me instalei no centro de Los Angeles, fiquei impressionado com uma área com uns vinte quarteirões com barracas e moradores em situação de rua. Parecia um país muito pobre e não vizinho de Beverly Hills. Isso é parte importante da cidade.
Desde Cidade de Deus, seu nome é respeitado em Hollywood. Mesmo assim, ainda vive em São Paulo e trabalha bastante no Brasil. Por que essa escolha? Minhas raízes estão aqui, minha família — sou avô de quatro netos —, tenho uma fazenda no interior onde planto abacate, cana, goiaba. Gosto de contar as histórias do Brasil. Mas agora pretendo ficar no meio a meio, um ano aqui e outro lá nos Estados Unidos. Gosto de entender o mundo.
No embate entre cinema e streaming, o senhor se dá bem em ambos. Como analisa este momento da indústria? Nada supera a experiência da sala de cinema, é como sonhar de forma coletiva. Mas o streaming aumentou o acesso aos filmes e sou grato por isso.
Publicado em VEJA de 29 de março de 2024, edição nº 2886