Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês

Tela Plana

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
Continua após publicidade

‘La Révolution’, da Netflix, adiciona mortos-vivos à Revolução Francesa

A série de terror é uma divertida, mas nada sutil alegoria do célebre evento histórico: os nobres de sangue azul devoram (literalmente) os plebeus

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 out 2020, 12h31
  • Seguir materia Seguindo materia
  • “Um povo com medo, obedece. Um povo sem nada a perder, se revolta”, diz um integrante da corte francesa do século XVIII ao novo conde. O rapaz engomadinho, transbordando crueldade, chegou ao poder pesando ainda mais a já insuportável mão de ferro sobre os camponeses do condado de Montargis. Um detalhe relevante: o tal conde é um morto-vivo, algo entre um zumbi com fome de carne humana e um vampiro de elevada autoestima, com força descomunal e sentidos super-aguçados. Logo, não bastasse os impostos excessivos e o trato desumano com as classes mais baixas, a aristocracia representada pela série La Révolution devora (literalmente) pessoas pobres de que, oras bolas, ninguém vai sentir falta.

    O novo programa da Netflix, que logo entrou para o ranking de mais populares da plataforma, transita entre a crítica social à la Les Misérables e os elementos típicos do terror, fazendo uma releitura peculiar dos gatilhos que desencadearam a Revolução Francesa de 1789. A produção original da França, assinada pela dupla ainda pouco conhecida Aurélien Molas e Gaia Guasti, é uma alegoria criativa e ácida sobre o célebre levante popular, um divisor de águas da história do país. O roteiro, aliás, é exageradamente explícito na mensagem que deseja passar.

    A trama se passa em 1787, dois anos antes da Queda da Bastilha. O assassinato hediondo de uma jovem camponesa, morta e parcialmente devorada, suscita uma investigação paralela feita pelo médico da prisão, Joseph Guillotin (Amir El Kacem) – na vida real, o inventor da guilhotina (que era contra a pena de morte, mas tentou estender ao povo a cortesia de uma morte rápida dada aos mais ricos). Guillotin suspeita que o acusado de matar a garota, um africano estrangeiro, seja inocente. Em sua busca, ele descobre que o caso não é isolado, nem tão simples, encostando de um lado nos aristocratas e do outro em rebeldes que planejam uma revolução. No meio das duas divisões está a condessa Élise de Montargis (Marilou Aussilloux), que busca o pai desaparecido, enquanto alimenta simpatia pelo povo jogado às traças. Ela tem uma irmã mais nova, Madeleine (Amélia Lacquemant), uma garota atormentada por pesadelos e visões responsáveis por algumas das cenas mais assustadoras da série.

    JOSEPH GUILLOTIN & KATELL (6)
    O médico Joseph Guillotin (Amir El Kacem) e sua ajudante Katell (Isabel Aimé González-Sola) na série ‘La Révolution’, da Netflix (//Divulgação)
    MADELEINE DE MONTARGIS (9)
    Madeleine (Amélia Lacquemant), em ‘La Révolution’: pesadelos e visões assustam a garota (//Divulgação)

    O curioso médico descobre que o real assassino está doente de uma enfermidade chamada por ele de sangue azul. Uma nova peste tenebrosa, que transforma os homens em canibais e faz com que eles retornem da morte constantemente. Cortar suas cabeças é a única maneira de eliminá-los.

    Percebe-se então que não há sutilezas nas metáforas do roteiro. Enquanto na série o sangue azul é literalmente azul entre os infectados, na vida real o termo tem sido historicamente associado às famílias nobres de reinos da Europa. Diz-se que a pele extremamente branca dos que viviam nos castelos evidenciava as veias de tonalidade distinta “azulada”, quando comparada às peles bronzeadas e sujas dos camponeses. Já a decapitação como meio para parar os “mortos-vivos” foi a mesma sentença dada à corte do rei Luís XVI, que acabou guilhotinado.

    Continua após a publicidade
    DONATIEN DE MONTARGIS (4)
    Donatien de Montargis (Julien Frison): o representante da crueldade da corte em ‘La Révolution’, da Netflix (//Netflix)
    LA REVOLUTION (1)
    Elenco da série ‘La Révolution’, da Netflix: os rebeldes contra a aristocracia (//Divulgação)

    A alegoria mira ainda questões dos dias de hoje: Joseph Guillotin e o primeiro acusado de assassinato, o africano Oka (Doudou Masta), são estrangeiros repelidos pela sociedade francesa, como os refugiados contemporâneos. A desigualdade social, apesar de extrema na série, faz as vezes de uma alfinetada no atual momento do país europeu, que voltou a apresentar um maior distanciamento entre as classes sociais.

    Continua após a publicidade

    A série é divertida. Mas vale ressaltar que, se você busca uma representação histórica e apurada da Revolução Francesa, melhor procurar um bom livro. La Révolution é entretenimento puro — com muitos sustos, violência e sangue, seja azul ou vermelho.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.