A tensão entre os Estados Unidos e a Rússia está em altíssima temperatura — com ramificações geopolíticas pela Europa e outros continentes. Da primeira-ministra da Inglaterra ao secretário de Defesa americano, as autoridades parecem, estranhamente, dispostas a botar ainda mais água quente na fervura — o que pode levar a uma guerra planetária. Figurinha carimbada nas produções da Marvel desde 2008, o marrento Nick Fury (Samuel L. Jackson) entra em cena então para esclarecer: o que está em jogo no enredo de Invasão Secreta, nova minissérie da Marvel que acaba de estrear no Disney+, não é coisa desse mundo. Na verdade, o mentor dos super-heróis da agência secreta S.H.I.E.L.D. precisa impedir a tomada da Terra por skrulls, alienígenas que conseguem se metamorfosear em humanos, replicando sua aparência exata — e que já estão infiltrados em cargos de liderança pelo mundo, com o objetivo de atiçar um conflito.
A nova trama da Marvel se vale de extraterrestres para tecer uma alegoria política bem concreta: os aliens aqui representam as forças que dividem e envenenam as instituições democráticas no presente, dos propagadores de fake news aos extremistas. Com essa premissa, Invasão Secreta afasta o estúdio, ainda que momentaneamente, das saturadas tramas sobre metaversos e heróis mitológicos, para retomar um filão que já explorou tão bem em produções como o longa Viúva Negra, com sua história de espionagem calcada na Guerra Fria. Só por fugir à sua zona de conforto, a série já seria um belo acerto — não à toa, vem sendo saudada como superior a suas outras apostas no Disney+, como Loki (2021) e Ms. Marvel (2022).
O fato de a série ter um protagonista com o cacife fulgurante de Samuel L. Jackson faz também toda a diferença, claro. Seu Nick Fury chegou a morrer no evento conhecido como Blip — quando o vilão Thanos dizimou metade de todos os seres vivos do universo no filme Vingadores: Guerra Infinita (2018). O agente especial voltou à vida no longa seguinte da franquia, Ultimato (2019), e agora troca o posto de coadjuvante pelo de protagonista. Na nova série, ele tem de enfrentar Gravik (Kingsley Ben-Adir), um líder skrull sedento por poder, cujo objetivo é semear o caos com atos de terrorismo, matando inocentes e levando os humanos a se dilacerar. “Como confiar nos alienígenas, se eles podem se transformar em qualquer um? Isso nos faz desconfiar de todos”, disse Jackson a VEJA (leia entrevista completa).
No passado, Fury prometeu achar um lar para os skrulls após eles terem seu planeta natal destruído — em outra alusão política, dessa vez à situação dos refugiados. Mas uma parcela rebelde cansou de esperar. Mesmo acusado de estar fora de forma, o agente decide impedir a guerra sozinho. Ou melhor: conta com uma aliada de luxo para a causa, a persuasiva agente (humana) Sonya — vivida por Olivia Colman, na estreia da atriz no universo da Marvel. A experiência de duelar com ETs empolgou a estrela de The Crown. “Você está lutando com o desconhecido. Isso mexe com a sua cabeça. E se aquela pessoa que você acha que conhece na verdade for um skrull?”, disse Olivia a VEJA. Realmente, o inimigo pode estar entre nós.
Publicado em VEJA de 28 de Junho de 2023, edição nº 2847
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