Em maio de 2020, o comediante americano Travon Free e o cineasta inglês Martin Desmond Roe produziam uma comédia romântica quando o vídeo em que George Floyd é assassinado em uma abordagem policial violenta viralizou pelo mundo. Chocados, ambos decidiram deixar o filme leve de lado para escrever o roteiro de Dois Estranhos, curta-metragem da Netflix, que concorre ao Oscar no próximo domingo, 25.
Na trama de 32 minutos, o jovem negro Carter James (vivido pelo rapper Joey Bada$$) acorda ao lado de uma bela garota, com quem teve um encontro na noite anterior. Feliz, ele sai do apartamento bem localizado em Nova York e acende um cigarro na calçada. Logo Carter é abordado por um policial (Andrew Howard) que o acusa de ser traficante e tenta revistá-lo. O rapaz reage e logo é assassinado. Em seguida, ele acorda novamente no apartamento da garota.
Dali em diante, Carter percebe que está preso em um looping temporal no qual, não importa o que faça, sempre acaba morto pela polícia. Estão no roteiro preocupações comuns à população negra e que brancos raramente se preocupam, como as roupas (muitas das vezes ele deixa a mochila e a jaqueta colorida no apartamento e sai só de camiseta branca e calça jeans, para não chamar a atenção) ou a cabeça baixa em um comportamento submisso na esperança de ser deixado em paz. Em determinado ponto, ele tenta uma nova abordagem: conversar com o policial. Começa então uma criativa virada na trama.
A produção vem de encontro com o movimento “Say their names”, ou “diga seus nomes” em tradução literal, que lista nominalmente os negros mortos pela brutalidade policial americana e as situações em que eles foram assassinados: desde estar dormindo em casa, como Breonna Taylor, até o abusivo caso de Floyd, que tinha ido ao mercado. Um assunto urgente e que, mesmo com a condenação do policial que tirou a vida de Floyd nesta terça-feira, 20, ainda está longe de ser dado como resolvido.