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Fátima Pissarra, da Mynd8, sobre escândalo da Choquei: ‘Sofri ameaças’

Dona da agência de influenciadores, empresária fala do negócio milionário e como enfrentou a crise envolvendo ex-agenciados e a morte de uma jovem

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 10h04 - Publicado em 23 fev 2024, 15h26
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  • No início de janeiro, Fátima Pissarra, CEO da Mynd8, uma das maiores agências de publicidade e marketing de influência do país, viu sua vida virar um caos. Empresária experiente em agenciar influenciadores digitais para fechar contratos publicitários e movimentar milhões de reais todos os anos — cuidando até mesmo de crises de imagem dos agenciados, a curitibana de 46 anos precisou enfrentar sua própria turbulência ao ser colocada como uma das responsáveis pelo suicídio da mineira Jéssica Canedo, de 22 anos, vítima de uma fake news espalhada por páginas como Choquei e Garotx do Blog — essa integrante do casting da Mynd8 através do projeto Banca Digital, de Murilo Henare.

    Em entrevista a VEJA, Fátima Pissarra explica o modelo de negócio altamente rentável da influência digital, relembra as ameaças de morte provocadas por uma onda de ataques de ódio inflamadas pela desconfiança do público com os dito influencers e o que precisa ser mudado nesse mercado.

    Confira a entrevista:

    O que é um influenciador digital? Eu sempre falo que todos nós somos influenciadores digitais, basta alguém pedir uma opinião e você dar, seja sobre um carro ou maquiagem. Você pode começar a desenvolver conteúdo de qualquer coisa, depois pode acabar trabalhando com marcas, ou até mercado de afiliação — indicação de produtos e ganho de comissão por quem comprar –, que é um negócio que ainda vai se desenvolver muito no Brasil, porque é uma forma de geração de emprego e de renda para uma população que muitas vezes tem dificuldade de locomoção, mora longe do trabalho, mas tem uma boa internet e pode fazer isso de casa. Todo mundo que palpita sobre alguma coisa pode ser influenciador, espaço tem para todo mundo. Para se tornar uma profissão precisa de dedicação para que a sua fala influencie alguém.

    Como as marcas enxergam esse mercado com a chegada de influenciadores na publicidade? Antes era a marca impactando pessoas, e o que as pessoas vivenciavam ficava fora do campo de visão das empresas. O influenciador trouxe a usabilidade dessas marcas para o público. A influência passou a ser uma segunda etapa na decisão de compra.

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    A Mynd8 se considera a maior agência especializada em marketing de influência, conectando marcas e influenciadores, e tem uma expectativa de faturamento de 1,5 bilhão de reais até 2025, certo? Eu queria saber de onde saiu esse número, porque eu nunca falei isso. Muitas coisas saíram sobre a gente em janeiro que não são verídicas. Nossa expectativa para este ano é um faturamento de 500 milhões de reais, para o ano que vem eu não sei. Mas é claro que eu espero que o mercado de influência cresça para a gente faturar 1 bilhão, 2 bi, 3 bi! Mas, sendo sincera, projetamos um aumento de 15% no ano que vem em relação a este. Por enquanto não vejo o mercado tendo uma fatia tão grossa para investimento.

    Em janeiro, a Mynd8 foi apontada como uma das culpadas pela fake news de um romance entre a mineira Jéssica Canedo, de 22 anos, e Whindersson Nunes, o que resultou no suicídio da jovem, que já sofria de depressão. O que aconteceu? Nós trabalhamos com a Banca Digital, do Murilo Henare, e o Garotx do Blog, que integra esse projeto, estava nesse balaio de páginas que compartilharam a fake news. Não sabemos até agora como isso começou, só sabemos que as páginas recebiam aquele print falso [de uma suposta conversa entre a Jéssica e o Whindersson] várias vezes, e aí aconteceu essa fatalidade. Quem virou o centro do debate foi a Choquei, mas a Mynd8 não é dona da Choquei, nunca foi. A página chegou a ser agenciada pela empresa, mas já não era mais do grupo há dois anos. Um movimento de robôzinhos ficou o dia inteiro nos atacando, mentindo sobre esse fato. Agora nós estamos tentando dar às páginas de entretenimento muito mais informações de caráter jornalístico, que é importante seguir um manual de redação, para eles se profissionalizarem cada vez mais, mas nós não mandamos no conteúdo editorial, só administramos a parte comercial dos perfis. Cada perfil da Banca tem seu dono.

    Como enfrentou essa crise de imagem, além de ter desativado sua própria rede social? A gente já tinha passado por inúmeras crises com agenciados de vários tipos, também já tínhamos tido outra crise, motivada por política, então a gente sabia mais ou menos até aonde dá para ir que adianta. Parecia um tiroteio, eu e meus filhos recebemos ameaças de morte, foi bem pesado. Nossa reação foi falar a verdade, mas não adianta a gente ficar batendo em mentira, porque o bombardeio vem de mentiras. Tive que ir para o mercado falar com os investidores, com as marcas para desmentir os absurdos que falavam de nós. Chegaram a inventar que era eu quem escrevia os posts, sendo que são mais de 450 agenciados, isso é impossível. Enfim, fizemos nosso comunicado, tentamos nos resguardar, mas não posso garantir que amanhã não vai acontecer nada. Nosso objetivo é tentar prevenir os erros.

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    Por que acha que a empresa foi tão atacada? Sinceramente, eu vejo como motivação política, pelo fato de grande parte dos agenciados e dos perfis terem um posicionamento voltado à esquerda. E por sermos uma empresa com propósito de diversidade, 50% dos nossos funcionários são pessoas pretas, indígenas, transsexuais. Então acabou que a gente virou alvo.

    E a página Garotx do Blog segue afastada da agência? Sim, a página teve seu contrato suspenso assim que aconteceu e isso permanece.

    As pessoas que querem ser influenciadoras digitais podem pagar para aparecer nessas páginas de entretenimento? Não. Só trabalhamos com quem emite nota fiscal. Não recebemos nada por fora e todas as publicidades são sinalizadas com #publi. O que acontece é que as páginas costumam falar de quem o algoritmo gosta, de assuntos que o algoritmo alavanca.

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    As marcas ficaram receosas depois de tudo que aconteceu? Estamos dando mais segurança para as marcas dentro dos perfis que estão dentro da Mynd8, mostrando o que estamos fazendo, de passar mais informação e dar suporte mais regulatório das questões do jornalismo, de ética, mas o que a gente espera realmente é que existe uma regulamentação do mercado, mas para tudo relacionado à internet, ao digital. No auge dos ataques, ficaram falando que a Mynd8 fez campanha para o presidente Lula, sendo que eu nunca nem o vi na minha vida. Eu sou jornalista também, precisa ter ética na hora de passar e repassar informações.

    A empresa está processando os emissores de fake news? Sim, mas todo processo demora, não dá para tirar do ar uma fake news tão facilmente.

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