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Em meio à pandemia, HBO revive série sobre Peste Negra em Sevilha

Série de suspense espanhola abre uma curiosa janela que liga a crise social e de saúde do passado com os dias de hoje

Por Amanda Capuano 19 jan 2021, 11h08

No final do século XVI, a cidade de Sevilha, na Espanha, era o polo comercial mais importante do ocidente. Com um porto movimentado, a região prosperou, mas o crescimento desenfreado foi embrião de uma sociedade altamente desigual, onde miseráveis dividiam ruas estreitas com comerciantes e nobres endinheirados em feiras ao ar livre. O cenário caótico, e tipicamente urbano, da então metrópole formou a tempestade perfeita para que, em 1649, a peste bubônica se espalhasse na região, deixando um saldo de 60.000 mortos, cerca de 45% da população da época. É nesse contexto que se passa A Peste, série espanhola lançada originalmente em 2018 e ressuscitada agora pela HBO, em meio à pandemia de coronavírus. Exibida nas noites de segundas-feiras, a série levou o segundo episódio ao ar ontem — os dois capítulos iniciais podem ser vistos na plataforma de streaming HBO Go.

Criada por Alberto Rodríguez e Rafael Cobo, A Peste é considerada uma das séries espanholas mais ambiciosas dos últimos anos, com um orçamento de 10 milhões de euros alocados na produção dos seis capítulos de sua temporada inicial. Na trama, adaptada do roteiro do cineasta Rafael Cobos, Mateo (Pablo Molinero), um homem perseguido pela inquisição por imprimir livros proibidos, volta à Sevilha cinco anos depois de condenado, em busca do filho de um amigo morto na guerra. Para salvar a própria vida, ele recebe uma proposta: deve investigar uma série de assassinatos que estão ocorrendo na região.

Imagem de divulgação do segundo episódio de A Peste, que vai ao ar nesta segunda-feira, 18 na HBO
Cena da série ‘A Peste’, exibida pela HBO (HBO/Divulgação)

Embora um corpo coberto por manchas negras denuncie a presença da doença logo no primeiro episódio, a epidemia não é o foco da narrativa. Isso porque, assim, como na pandemia atual, a vida — e os crimes — na Sevilha retratada não pararam nem mesmo diante da ameaça da peste. Em uma passagem familiar, mas bem mais radical aos dias de hoje, uma espécie de lockdown forçado, com soldados colocados em frente às tendas para impedir a saída da população, é apontado como forma de contenção. Os responsáveis pela estratégia, porém, alertam que não conseguirão segurar as pessoas por muito tempo. Neste caso, qualquer semelhança é, realmente, mera coincidência, já que a produção foi gravada bem antes da chegada do coronavírus ao mundo. A cena mostra, contudo, que não é de hoje que a estratégia da quarentena, embora eficiente, é deveras impopular.

Paralelos à parte, com um mistério de assassinatos de crueldade medieval como fio condutor, a produção toma a forma de um thriller psicológico intenso em meio a uma cidade tomada pela escuridão. A própria fotografia, aliás, escura e sóbria, é responsável por transmitir o ar de uma região largada à própria sorte, onde a desigualdade impera e o caos social emerge às sombras de uma doença que espreita cada esquina à espera de mais uma vítima – na maioria das vezes pobres, já que os nobres mantêm-se distantes em seus palacetes. Um drama fictício instigante, que funciona, curiosamente, como uma janela que liga o passado e o presente.

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