“Eu tenho contas para pagar. Preciso de dinheiro.” Foi com essa frase, dita ao telefone à produção da Globo, que Babu Santana quase ficou de fora do Big Brother Brasil 20. Sondado para participar do reality, o ator de 40 anos esperava a confirmação de sua entrada no programa quando uma oportunidade de trabalho em São Paulo surgiu. O rapaz, com seu jeito impaciente, disse que não poderia mais ficar na geladeira. Horas depois, a emissora ligou de volta e confirmou a participação na atração. “O Brasil vai ver a minha barriga gorda tomando sol na piscina”, disse ele, comemorando a novidade com os amigos mais próximos.
Babu provavelmente nem imaginava que, próximo à reta final do programa, seria um dos favoritos ao prêmio de 1,5 milhão de reais. Sua presença forte, personalidade marcante e discursos contra o racismo fizeram dele objeto de amor e ódio nas redes. Até a publicação desta reportagem, o rapaz havia retornado de oito paredões consecutivos. Nesta terça-feira, 21, ele enfrenta o nono e penúltimo antes da final. Saindo ou não da casa, Babu é, sem dúvida, um vencedor do BBB20.
Alexandre da Silva Santana nasceu em dezembro de 1979, no Rio de Janeiro. Morador da favela do Vidigal, cresceu em uma casa pequena de dois quartos com os pais e a irmã. Sempre muito ligado à família, o ator prometeu comprar uma casa melhor para o pai – cujo apelido também é Babu, e ainda mora na mesma residência de dois cômodos – se ganhar o prêmio milionário. “Ele não é obrigado a me dar nada. Gosto muito daqui e não pretendo deixar a comunidade. Mas, se ele quiser me dar uma casa melhor, obviamente não irei recusar”, afirmou Luiz Carlos Santana, o Babu original. Além do imóvel para o pai, o ator pretende comprar sua primeira casa própria e pagar suas dívidas – que, segundo amigos, beiram os 50.000 reais. O valor acumulado é de aluguéis atrasados, pendências de uma empresa aberta por causa do trabalho autônomo, além de mensalidades escolares dos três filhos (Laura, 17; Carlos, 16; e Pinah, 5).
Desde pequeno, Babu queria ser ator. Viu oportunidade nos testes para o grupo Nós do Morro, um projeto social que forma atores no Vidigal. Ele passou no teste e logo em seguida foi selecionado para seu primeiro filme: Cidade de Deus (2002), no qual fez o papel do traficante Grande. Sua mãe, Dona Miriam, foi quem o incentivou a seguir a carreira de artista. Massagista e diarista, ela sempre apoiou as escolhas do filho e dizia desde pequeno que ele “cantava muito bem”. Dona Miriam juntou o pouco de dinheiro conquistado com seu trabalho para pagar um colégio particular ao filho em seus últimos anos escolares. Ela queria vê-lo formado em um “colégio bom e caro”. Assim foi feito. Babu estudou em um colégio particular no Jardim Botânico. Dona Miriam morreu há cinco anos, de câncer de mama. Babu entrou em depressão e nunca superou a perda da mãe.
Quando entrou no programa, há três meses, Babu tinha o objetivo de ganhar apenas um carro e, com a venda do automóvel, pagar suas dívidas. O participante ganhou muito mais que isso. Além de bens materiais, como o tão sonhado automóvel e um celular para o filho, ele ganhou reconhecimento. Mesmo tendo dado vida a Tim Maia nas telonas, e ganhado dois prêmios Otelo (honraria do cinema brasileiro), Babu tinha dificuldade para conseguir emprego como ator. “Ou ele era muito bom, ou não tinha o perfil para o papel”, relembra Hugo Grativol, ator e um dos melhores amigos de Babu. “Ele não tem noção do quão vitorioso ele já é aqui fora. Ele não precisa ganhar o BBB para ser campeão, ele já é. Ele não se encaixa no arquétipo do super-homem, lindo e salvador do mundo, mas ele é o nosso salvador. É o vencedor das massas”, teoriza.
Com a frase dita aos berros a cada retorno de paredão — “favelaaaaa, paizão ficou!” —, Babu mostra que quer bem mais que um carro para pagar uma dívida. Ao assumir o personagem de origem humilde e que se orgulha de seus traços, destacando o cabelo com um pente para fios afros constantemente na cabeça, o ator revela nas entrelinhas que percebeu qual é seu apelo no programa: representar na TV aberta parte relevante da população do país, pouco explorada pelos programas de entretenimento, como provam as novelas da própria rede Globo, em que raramente um negro é protagonista. Um feito e tanto.
Quando Babu sair, terá muitas surpresas. Seu time do coração, o Flamengo, e o ídolo Gabigol já declararam torcida por ele. O diretor de Bacurau, Kleber Mendonça Filho, disse que quer trabalhar com o ator fora da casa. E o novelista Daniel Ortiz, autor da novela das sete Salve-se Quem Puder, também demonstrou interesse em uma participação do ator no folhetim depois do reality show — e, agora, depois da quarentena. Trabalho é o que não faltará para quitar as já mencionadas dívidas. Ao que parece, enfim, a modelo Ivy Moraes – participante do programa que acaba de ser eliminada com 74% dos votos no paredão contra a influenciadora Rafa Kalimann e a médica Thelma Assis – estava errada ao dizer, durante o confinamento, que Babu não teria muitas oportunidades como ela fora do programa. O mundo dá voltas.