Na infância, a brasiliense Maeve Jinkings tinha como hobby preferido das férias ir até uma locadora de filmes de rolo. Gostava de assistir obras da Disney, criando um pequeno cinema no escritório na casa de seu pai, em Brasília, deixando tudo escuro e montando um projetor que ele tinha. A princípio, não parecia nada glamouroso, mas ali nascia a primeira fagulha da relação da atriz com o cinema. Quando chegou à fase universitária, se formou em comunicação social na Universidade da Amazônia, no Pará, mas logo o desejo de atuar a levou até São Paulo, onde foi estudar na Escola de Artes Dramáticas da Universidade de São Paulo. Após quase três décadas dessa decisão, a atriz, hoje com 47 anos – e uma carreira repleta de obras chamativas como as séries DNA do Crime (Netflix) e Os Outros (Globoplay), além do filme Pedágio (em cartaz nos cinemas) –, exalta seu amor pela profissão, mas reconhece os sacrifícios que a escolha impôs sobre sua vida. “É como num casamento longo em que você vai se transformando, aí o teu parceiro vai se transformando e você tem que, de vez em quando, refazer o acordo e entender de novo se continua apaixonado”, analisa a atriz em entrevista a VEJA.
Filha de uma fotojornalista e de um comerciante, Maeve ganhou esse nome peculiar graças à literatura. Sua mãe havia lido na adolescência Meu filho, Meu filho!, de Howard Spring, e se encantado pela personagem de mesmo nome. Mais tarde, a atriz descobriria ainda que Maeve tem origem celta e na mitologia irlandesa significa “intoxicante” e “inebriante”, com simbologias de inteligência e força. Já o sobrenome Jinkings é uma herança do avô materno, Raimundo Jinkings, um livreiro de Belém do Pará, jornalista e militante comunista brasileiro de origem escocesa. Com um histórico familiar envolvido com a arte de contar histórias em fotos e livros, o universo da ficção sempre a inspirou. Formada atriz no começo dos anos 2000, Maeve Jinkings se destacou nacionalmente com O Som ao Redor (2013), de Kleber Mendonça Filho, filme que deu grande visibilidade e abriu portas, como a entrada na novela da Globo A Regra do Jogo, em 2015. Desde então, foram vários trabalhos diversificados, mas com tons em sua maioria políticos. Caso de Boi Neon (2015), Aquarius (2016) e Carvão (2022), tornando a atriz uma figura recorrente no audiovisual nacional.
“Eu ainda sou apaixonada por atuar, mas a gente abre mão de muita coisa, emprestamos nosso corpo e nossa imagem, ficamos muito tempo sem a nossa família. Eu não pude ter filhos, eu não tive ainda essa oportunidade por causa da correria do trabalho. Mas às vezes acontece alguma coisa tão bela em cena, quando descobrimos algo sobre o comportamento humano, que parece que preenche um buraco existencial”, diz.
Em Pedágio, filme da diretora e roteirista Carolina Markowicz – também namorada de Maeve –, a atriz interpreta Suellen, uma cobradora de pedágio de Cubatão (SP) que inscreve o filho adolescente, homossexual, em um retiro de “cura gay”. A falta de dinheiro para mandar o rebento ao lugar “de salvação” leva a mulher a cometer crimes ao lado do namorado, expondo as maluquices de uma sociedade homofóbica e as hipocrisias do ser humano. “Me interessa muito essa linguagem da Carolina, que borra a fronteira que debate moralidade, sem maniqueísmo e obviedades”, elogia a artista. Se por um lado Suellen de Pedágio é contraditória, a Suellen de DNA do Crime é bem obstinada. Na série de ação que vem fazendo sucesso na Netflix desde sua estreia em 14 de novembro, ela interpreta uma policial federal na caça por uma quadrilha de roubo a bancos ao lado do parceiro destemperado Benício (Rômulo Braga). A mulher se desdobra entre ser uma ótima agente e uma recente mãe de primeira viagem – não se furtando de cenas de tiroteios, embates com bandidos e ainda momentos delicados com a recém-nascida.
Na intensa série Os Outros, um dos maiores sucessos do ano, escrita por Lucas Paraizo, a atriz dá vida à Mila, uma dona de casa gentil que precisa manter o equilíbrio com um marido violento e um filho adolescente rebelde que segue o exemplo tóxico do pai. Em qualquer papel que Maeve Jinkings toque, sua versatilidade salta. Vai do drama à ação rapidamente, dando autenticidade à obra que torna fácil explicar o porquê da brasiliense chamar atenção: nela, beleza, talento e carisma trabalham em conjunto. “Tenho consciência que estou num momento muito especial, a nossa vida é feita de ciclos, tem hora que você tá colhendo muita coisa, tem hora que você tá semeando. Estou num bom momento de colheita e feliz com isso”, exalta.
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