Quando Silvio Santos (1930-2024) morreu, aos 93 anos, sua herança já estava muito bem dividida, assim como o controle do SBT — e a sucessão do império do dono do SBT para suas filhas se deu com suavidade e sabedoria. Nem toda divisão do espólio de celebridade, no entanto, é assim tão pacífica, especialmente quando a morte acontece de forma inesperada ou há conflitos familiares envolvidos. Nos últimos meses, uma série de disputas judiciais ganhou as manchetes, lançando nomes de prestígio em imbróglios complicados. Na mais recente delas, a disputa é entre a esposa e os filhos de Cid Moreira, que foram excluídos do testamento. Confira a seguir alguns casos de grande repercussão:
Cid Moreira
Morto no início do mês, aos 97 anos, Cid Moreira (1927–2024), o primeiro âncora do Jornal Nacional, está envolvido em uma série de controvérsias. Depois da morte, revelou-se que o jornalista excluiu os filhos, Rodrigo Razendev Simões Moreira e Roger Felipe Naumtchyk, de seu testamento, que dividiria uma fortuna estimada em 60 milhões de reais, levando o caso para a Justiça.
A briga, no entanto, não é de hoje: no ano passado, os herdeiros entraram na justiça para que a mulher do jornalista, Fátima Sampaio, com quem estava casado desde 2000, fosse investigada por dilapidar o patrimônio do apresentador. Antes disso, em 2006, Rodrigo já tinha entrado na Justiça acusando o pai de abandono afetivo e, mais recentemente, Roger, filho adotivo do jornalista, acusou Cid Moreira de ter cometido uma série de abusos sexuais contra ele.
Gal Costa
Há pouco menos de um mês, a viúva e o filho de Gal Costa (1945–2022), Wilma Petrillo e Gabriel Costa, chegaram a um acordo quanto à distribuição da herança da cantora, que morreu em novembro de 2022, vítima de um infarto — mas a decisão só veio depois de muita lavagem de roupa suja e processos na justiça, que acabaram cancelados com o acordo.
Após a morte de Gal, aos 77 anos, Wilma e Gabriel trocaram acusações, com o jovem questionando as causas da morte e pedindo a exumação do corpo. Uma juíza paulista descartou a exumação, mas determinou que fosse aberta uma investigação. Ou seja: a disputa virou caso de polícia. De acordo com o atestado de óbito, a cantora baiana foi vítima de “infarto agudo do miocárdio causado por neoplasia maligna (câncer) de cabeça e pescoço”. Gabriel dizia não saber que a mãe estava doente e exigiu uma autópsia — que não foi feita após a morte, como de praxe quando o óbito se dá em casa, à mando de Wilma.
A desarmonia familiar provocou lances controversos. Gabriel, que reconheceu Wilma como segunda mãe e esposa de Gal num processo póstumo de união civil, depois alegou ter sido coagido a fazer a declaração quando era menor de idade e pedia a anulação do documento, assim como a retirada de Wilma do posto de inventariante. No contra-ataque, a empresária pediu uma “perícia psicossocial”, afirmando que Gabriel, 18 anos, estava vulnerável e era manipulado pela namorada, 33 anos mais velha (e ex-sogra do garoto).
João Gilberto
O inventário do gênio da bossa nova, morto em julho de 2019, aos 88 anos, se tornou um tema espinhosos, cheio de disputas, reviravoltas e trocas de farpas entre herdeiros. Há, por exemplo, duas mulheres que reivindicam o posto de companheira de João Gilberto (1931–2019), aumentando a robusta lista de potenciais herdeiros. Além dos filhos — a cantora Bebel, o músico João Marcelo e a estudante Luísa, de 20 anos — e da moçambicana Maria do Céu Harris, 61, a jornalista e artista plástica Claudia Faissol, 52, mãe da caçula, também está no imbróglio. Em abril, Claudia ingressou com uma ação na 18ª Vara de Família do Rio requerendo o reconhecimento da união estável com o cantor entre 2006 e 2017. Na mesma jurisdição, corre desde 2019 o processo de Maria do Céu, que alega ter vivido com João de 1984 até a sua morte, somando 35 anos entre idas e vindas.
Entre os filhos também não há harmonia: Bebel declarou que reconhece a união estável do pai com Maria do Céu. Luísa, a caçula, está ao lado da mãe, Cláudia; e João Marcelo não aceita nenhuma das duas como companheira do pai. Há ainda uma disputa entre as irmãs para assumir o posto de inventariante, até agora em mãos de um profissional que não é da família.
Tarsila do Amaral
O debate sobre a autenticidade da obra intitulada Paisagem 1925, que teria sido pintada por Tarsila do Amaral (1886–1973) naquele mesmo ano, expôs de forma retumbante uma guerra familiar entre os herdeiros da modernista. Quando morreu, a artista não tinha herdeiros diretos, e sua herança, cujo principal bem é o direito de exploração de suas obras hoje milionárias, ficou dividida entre seus irmãos, sobrinhos-netos e sobrinhos bisnetos — totalizando ao menos 56 herdeiros.
Para administrar o espólio, fundou-se, nos anos 2000, a Tarsila do Amaral Licenciamento e Empreendimentos (TALE). Tarsilinha, sobrinha-neta da pintora, ficou à frente da gestão até 2022, quando deixou a empresa e levou consigo outros herdeiros. Desde então, a Tale, agora administrada por Paola Montenegro, sobrinha bisneta de Tarsila, abriu uma série de processos contra ela, incluindo acusações de divergências nas contas e competição desleal, que ainda correm na Justiça. O novo quadro adicionou mais lenha à fogueira jurídica, já que uma parcela significativa dos herdeiros discorda de sua autenticação. A briga familiar e a troca constante de processos judiciais levou ao congelamento, até que se chegue a um acordo, do dinheiro gerado pela exploração das obras de Tarsila.
Gugu
Um dos casos mais falados dos últimos ano, a disputa pelo espólio de Gugu segue ganhando novos capítulos até hoje. Quando o apresentador morreu, em 2019, deixou em testamento 75% de seu patrimônio para os três filhos, e o restante para ser dividido entre os sobrinhos. Nessa partilha, Rose Miriam, mãe dos filhos de Gugu, acabou sem nada, e entrou na justiça para reivindicar o reconhecimento de uma união estável com o apresentador, reivindicando 50% da herança — Rose, no entanto, desistiu do processo em agosto.
Além de Rose Miriam, O chef de cozinha Thiago Salvático também entrou com um processo na Justiça pedindo o reconhecimento de união estável homoafetiva e a partilha dos bens acumulados no período em que eles teriam se relacionado. O pedido foi negado, mas ele ainda recorre da decisão. Outro possível herdeiro, Ricardo Rocha, de 49 anos, entrou na justiça no ano passado pedindo um exame de DNA que, segundo ele, comprovaria a paternidade de Gugu — o processo, no entanto, tramita em segredo de justiça.