A capa de PLACAR sempre foi lugar de craque e em sua edição de 19 de outubro de 1979 a revista conseguiu reunir dois dos jogadores mais deslumbrantes que o Brasil já teve: Sócrates e Reinaldo, então jovens ídolos de Corinthians e Atlético Mineiro, respectivamente. O encontro ocorreu na cobertura do prédio onde Sócrates morava, em seu segundo ano na capital paulista.
“PLACAR reúne a nova dupla de reis” foi a chamada de capa. Na reportagem, com ênfase nas imagens, o “doutor e o rei” posam com as camisas de seus clubes e também da seleção brasileira. Ambos já tinham convocações no currículo e esperavam se encontrar em breve com a amarelinha, o que não demoraria a acontecer. “Só vi o Sócrates uma vez, contra a Bolívia, pela tevê. É gênio”, disse Reinaldo, então com 22 anos, já tricampeão mineiro e com uma Bola de Prata de PLACAR, de 1977, no currículo Um ano antes, ele participara da Copa do Mundo na Argentina.
“Ele joga fácil. Gostaria de jogar a seu lado, vai ser bom”, retribuiu o o corintiano de 25 anos. Dois anos antes, ele havia concluído o curso de Medicina em Ribeirão Preto, na época em que conciliava os estudos com a carreira de jogador no Botafogo-SP.
O repórter de PLACAR, Sérgio A. Carvalho, da sucursal de Belo Horizonte, foi quem fez as apresentações, e a dupla logo se entendeu, segundo o relato da época. “Sócrates é um cara de grande caráter”, disse a estrela do Atlético Mineiro. “Poxa, te admiro muito”, rebateu o paulista. A tão esperada parceria na seleção brasileira sofreu um duro baque com a lesão que impediu que Reinaldo fosse o camisa 9 da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.
Sócrates e Reinaldo dividiriam mais do que a incrível capacidade de jogar futebol: foram craques cheios de personalidade, alinhados às causas sociais da época, críticos da ditadura, e chegaram a comemorar seus gols da mesma maneira, o punho direito erguido, gesto do grupo “Panteras Negras” consagrado pelos atletas americanos John Carlos e Tommie Smith na Olimpíada do México em 1968. Foram bons amigos até a morte do ídolo corintiano, em 2011.
Ainda nesta edição, a atriz Sônia Braga, grande musa da dramaturgia da época, também rasgou elogios a Sócrates. Vascaína, ela andava descontente com o clube carioca e fez a sugestão que jamais se concretizaria: “Quero o Sócrates no Vascão”.
“O Sócrates me atrai muito. Seu equilíbrio desequilibra toda uma defesa. Não é porque sou também corintiana, não. Eu, como atriz, sinto em Sócrates toda uma consciência do espaço cênico”, disse a estrela de Dona Flor e Seus Dois Maridos, lançado três anos antes.
“O Sócrates não tem o compromisso da comemoração do gol como Pelé, por exemplo, com aquele soco no ar. Não vibra mais do que o gol, vibra na medida certa. Eu também sou assim, só vibro com uma cena quando sinto que dei um salto qualitativo. Tá aí: o Sócrates é o craque eu recomendo para o meu clube.”É um artista, e que palco lhe cairia melhor do que o Maracanã”, completou Sônia. Para tristeza dela, o Doutor vestiria a camisa do Flamengo.