A evolução física do futebol é notória e incontestável, basta ver o número de jogadores que conseguem se manter em altíssimo nível depois dos 30 anos. Cristiano Ronaldo segue batendo recordes aos 36. Lionel Messi, aos 33, idem. Na década de 80, a longevidade não costuma ser tão grande e nem mesmo um gênio da bola escapava das críticas. O #TBT desta semana destaca uma reportagem de PLACAR de fevereiro 1985, que repercutia uma fala de Enzo Ferrari, treinador da Udinese, sobre Zico, que estava de saída da equipe italiana. “Ex-técnico de Zico diz que ele está acabado, você acha?”.
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Na época, Zico estava na mesma faixa etária de Messi hoje. Além da genialidade em campo, os camisas 10 dividem oura semelhança: o fato de serem naturalmente franzinos e de terem realizado tratamentos de crescimento e fortalecimento na juventude. Aos 33 anos, o brasileiro já havia disputado duas Copas do Mundo (1978 e 1982) e vencido Libertadores, Mundial (1981), os Brasileiros de 1980, 1982 e 1983, entre outros tantos títulos pelo Flamengo. Assim como o argentino, o Galinho recebia críticas pela falta de títulos pela seleção e já dava sinais de decadência física.
Quando Enzo Ferrari saiu da Udinese, o italiano cravou que Zico estava acabado e as muitas lesões eram causadas pelo brasileiro ser ‘forjado em laboratório’. PLACAR ouviu então José Roberto Francalacci, preparador físico do Flamengo responsável pela estruturação muscular de Zico no início na Gávea. “Com esta crítica, na verdade, Ferrari quer atingir a mim (…) Suas críticas, porém, não tem o menor fundamento”, afirmou Francalacci, dizendo ter problemas pessoais com o técnico italiano.
O preparador do Flamengo alegou que o clube do norte da Itália não tinha uma metodologia de trabalho eficiente e que seria responsável pela sobrecarga muscular de Zico. “O problema é que, como Zico é a estrela maior, só se fala nele. Pois quem não sabe, fique sabendo: na Udinese, uma média de dois jogadores por semana sofre distensão muscular. É o Zico quem está acabado?”, questionou.
Quem também foi perguntado sobre o assunto e sobre o medo de ‘acabar aos 30’, foi uma revelação rubro-negra, o atacante Bebeto, campeão mundial pela seleção em 1994, então com 21 anos. “Tomara eu tenha o prestígio dele aos 30 anos”. O jogador concluiu: “Quem anda dizendo por aí que Zico está acabado para o futebol, na verdade não entende nada de esporte.”.
A idade e as lesões pesaram, sim, para Zico, mas o craque conseguiu se adaptar à nova realidade física e conquistar títulos em sua volta ao Flamengo, naquele mesmo ano. Ainda que atormentado pelas dores, o camisa 10 disputou em alto nível torneios nacionais, foi convocado para a Copa do Mundo de 1986 e liderou o Flamengo nos títulos do Carioca de 1986 e do Campeonato Brasileiro (Copa União – Módulo Verde) de 1987. Em seguida, ainda encabeçou a revolução futebolística no Japão, já sem tantas exigências físicas e esportivas.
Lionel Messi, nos últimos anos, também mudou seu estilo de jogo. Sem a mesma explosão, o atleta passou a atuar mais como um armador, com novas características, sem longos arranques pelas pontas, mas com a genialidade de manipular espaços ainda mais apurada. Depois dos 30, o camisa dez argentino ainda venceu dois campeonatos espanhóis e foi eleito uma vez melhor jogador do mundo.