Duas décadas atrás, a Copa América teve início sob um ambiente de enorme turbulência, semelhante ao que deve ocorrer nos próximos dias em solo brasileiro. A sede da edição de 2001 foi a Colômbia, país que neste ano voltaria a receber o torneio, junto com a Argentina, não fosse a convulsão social e os problemas relacionados à pandemia do novo coronavírus, que levaram, às pressas, à mudança do evento para o Brasil. Naquela ocasião, a seleção brasileira dirigida por Luiz Felipe Scolari vivia um de seus momentos mais conturbados, ameaçada de não ir à Copa do Mundo de 2002. Um vexame histórico na Copa América colocou ainda mais na berlinda a equipe que acabaria conquistando o pentacampeonato na Ásia.
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O ambiente na Colômbia era de pura tensão. Nas vésperas do início do torneio de 2001, as FARCs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) entraram em confronto com o governo local, fator que colocou em risco a realização da competição. O volante Mauro Silva, temendo ataques terroristas, desistiu de participar pouco antes do embarque, em pleno aeroporto. A seleção vivia uma fase tenebrosa. Após a derrota na final da Copa do Mundo de 1998, não fazia boa campanha nas eliminatórias e a nova geração de atletas não empolgava o torcedor.
Após passagens breves de dois treinadores (Vanderlei Luxemburgo e Emerson Leão) a CBF encontrou em Felipão a esperança. O início foi o pior possível. Em 23 de julho de 2001, uma eliminação surpreendente para Honduras nas quartas de final da Copa América, com derrota por 2 a 0, tornou o ambiente na equipe quase insustentável. Na ocasião, foram a campo pelo Brasil: Marcos; Juan, Luisão (Juninho Pernambucano) e Cris; Belletti, Emerson, Eduardo Costa (Jardel), Alex (Juninho Paulista) e Júnior; Denílson e Guilherme. A edição de julho de 2001 de PLACAR debateu o “fim dos bons jogadores brasileiros”.
Nem mesmo os craques que sequer participaram do torneio, foram poupados. “Rivaldo nunca funcionou bem na seleção brasileira; Ronaldo só jogou seis minutos nos últimos dois anos; Romário sente o peso dos 35 anos”, dizia a reportagem intitulada “Não é o fundo do poço (mas é quase)”. “O Brasil ainda tem Djalminha, Denilson, Alex, Juninho Paulista, Juninho Pernambucano… Mas responda rápido: quando você os viu decidindo jogos e campeonatos a favor da seleção? E o que, afinal, diferencia o craque do bom jogador a não ser as jogadas decisivas?”, prosseguiu. (Clique aqui para ler na íntegra).
Naquele momento, em um debate que sempre insiste em voltar, acreditava-se que o futebol brasileiro estava entrando em decadência. Era consenso que existiam, sim, bons jogadores, mas nenhum diferencial. “A tática brasileira está superada, surrada e facilmente marcada pelos rivais. A primeira providência de um técnico estrangeiro ao enfrentar o Brasil é marcar os dois laterais.” A anfitriã Colômbia foi a campeã daquela edição da Copa América ao bater o México por 1 a 0 na decisão.
O vexame diante de Honduras ganhou ares ficcionais, críticos, mas bem humorados. Após a eliminação, André Fontenelle escreveu para PLACAR sobre “O dia em que o Brasil ficou fora da Copa”. Na produção, o escritor imaginou a situação da última rodada das Eliminatórias pra Copa do Mundo de 2002, que, nas linhas imaginárias, significaram a seleção brasileira fora do Mundial, após empate com a Venezuela em 0 a 0, jogando em casa.
“O resto todo mundo sabe. O gol não saiu, os três jogos terminaram empatados e vamos assistir ao Mundial em casa. Isto é, quem tiver assinatura, porque a Globo já desistiu da transmissão em TV aberta. Pelo menos a Copa de 2014 deve ser aqui: com essa Eliminatória não precisamos nos preocupar.”, finalizou Fontenelle.
Como se sabe, o Brasil se classificou para aquela Copa do Mundo, com gols de Luizão na derradeira partida das Eliminatórias contra a Venezuela, e, conquistou o penta em Yokohama com o brilho de Ronaldo e Rivaldo, antes alvos de desconfiança. Na sequência, o país ainda produziu mais dois “melhores do mundo”, Ronaldinho Gaúcho e Kaká. Ou seja, a pessimista previsão de PLACAR, felizmente, não passou de um devaneio.
As cobranças acerca do futebol brasileiro não cessam. A seleção conta com bons jogadores e um craque, Neymar. Para a Copa América deste ano, que também tem cenários externos bastante conturbados devido à pandemia, a simpatia pela seleção brasileira é baixíssima, talvez até menor do que em 2001, por motivos que extrapolam o aspecto esportivo. Ao menos, nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, o Brasil nada de braçada. Nesta sexta-feira, 4, o time de Tite encara o Equador, no Beira-Rio, em Porto Alegre, a partir das 21h30 (de Brasília).