“Caro Sérgio, o adjetivo ‘vago’ de ‘lugar vago’ é o mesmo adjetivo ‘vago’ de ‘ideias vagas’? Imagino que seja, mas não entendo qual seria a relação entre os dois sentidos de vago, o de vazio no primeiro caso e o de nebuloso no segundo. Grande abraço.” (Jairo Mattos)
A ótima consulta de Jairo nos permite falar de duas sósias perfeitas, duas palavras rigorosamente homônimas que, no entanto, têm origens e sentidos diferentes.
O adjetivo “vago” que significa “vazio, desocupado, desabitado, sem dono”, termo nascido no século XIV, é um descendente do latim vacuus, parente do vácuo e da vaga de estacionamento.
Cerca de um século mais novo, o “vago” que quer dizer “impreciso, ambíguo, inconstante” também tem um antepassado latino, mas de outra família: vagus, “que vagueia, errante”. A ideia é que a coisa vaga, por vagar por aí e estar cada hora num lugar, não permite uma leitura precisa ou nítida de seus contornos: “planos vagos”, “vagamente aliviado”. Os parentes aqui são o vagabundo e o vagalume.
Quando se pensa no substantivo ligado a cada um desses adjetivos, a diferença entre eles aparece claramente: o estado daquilo que está vago (vazio) é chamado de vacuidade; o daquilo que é vago (impreciso), de vagueza ou vaguidão.
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