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Quem é o gaúcho de 22 anos que venceu o prêmio Sesc de Literatura

Contos de temática LGBT escritos por Tobias Carvalho conquistaram o júri formado por autores como Daniel Galera e Letícia Wierzchowski

Por Paula Sperb
Atualizado em 15 jun 2018, 19h07 - Publicado em 15 jun 2018, 18h16
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  • Entre os 720 livros inscritos na categoria conto do Prêmio Sesc de Literatura, uma das principais premiações do campo literário brasileiro, a obra “As coisas”, do gaúcho Tobias Carvalho, foi escolhida por um júri formado por escritores como Daniel Galera e Letícia Wierzchowski. O resultado foi anunciado na última quinta-feira, 14. A vencedora da categoria romance é Juliana Leite, do Rio de Janeiro, cujo livro “Magdalena usa as mãos” foi escolhido entre 820 inscritos.

    Com apenas 22 anos, o estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) venceu o prêmio com seus contos de temática LGBT. “São contos simples. Mas dizem verdades, dizem coisas eu que queria falar aos outros sobre como é viver sendo gay”, disse Carvalho a VEJA.

    O livro de Tobias será publicado ainda neste ano pela editora Record, com uma tiragem inicial de 2.000 exemplares. Estreante, o escritor não esperava vencer, mas usou o prazo do edital como motivação para finalizar o livro que estava em andamento. “Não imaginava ganhar e ser publicado por uma editora grande. Meu plano era enviar o livro para editores independentes, menores, mas que admiro muito”, explica. Agora, Carvalho estará ao lado de autores renomados como João Almino e Cristovão Tezza, que compõem o catálogo da Record.

    “Quando atendi a ligação e fui informado de que era o vencedor, passei um bom tempo em choque. Cheguei a não acreditar, pensei que pudesse ser algum amigo meu passando um trote”, relembra Carvalho.

    O hábito da leitura foi adquirido graças a sua avó. “Minha avó sempre me deu muito livro e nunca disse não para nenhum que pedi. Ela foi a pessoa que me fez gostar de literatura”, relata. De leitor, Carvalho passou a escritor. Aos dezessete anos, fez sua primeira oficina de criação literária. Foram diversas oficinas realizadas com o escritor Pedro Gonzaga, em Porto Alegre.

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    Como atividade das aulas, Carvalho precisava escrever contos semanalmente. Alguns desses contos estão no livro premiado. “É muito bom ver os outros opinando sobre seu texto, muda a maneira de escrever. Escrever exige muita dedicação. Todos grandes escritores penaram”, disse, reconhecendo a importância das oficinas literárias.

    Seus contos tratam sobre relacionamentos afetivos entre homens. “Escrevo sobre coisas próximas a mim, sobre o cotidiano. A literatura LGBT, além de ser pouco representada, é muito em cima da descoberta, da aceitação. Já está na hora do próximo passo, de escrever sobre as relações como elas são, sobre as complexidades, sobre a dificuldades de ser gay”, explica.

    Também natural do Rio Grande do Sul, Natalia Borges Polesso venceu o Jabuti em 2016 na categoria contos com o livro “Amora”, que trata de relações homossexuais entre mulheres. O curador do Jabuti, aliás, pediu demissão após um comentário homofóbico. Carvalho reconhece a importância do prêmio de Natalia. “Felizmente, está surgindo mais espaço para esse tipo de literatura. Existem essas vozes que estão se impondo e achando espaço. Para a Natalia, isso deve ser ainda mais difícil porque é mulher e lésbica, apesar de ser uma escritora incrível”, opina.

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    Além de Natalia, Carvalho cita outros escritores contemporâneos que admira como Michel Laub, Carlos Eduardo Pereira, Julia Dantas, Luciana Brandão, Carol Bensimon, Samir Machado de Machado e Daniel Galera. Entre as influências nacionais, inclui também a banda goiana Carne Doce. Os autores estrangeiros preferidos variam de Jonathan Franzen, Haruki Murakami a Fiódor Dostoiévski.

    O estudante está no último ano da faculdade e, mesmo antes do prêmio, já pensava em se dedicar exclusivamente à ficção após a conclusão do curso. O próximo projeto de Carvalho possivelmente seja um romance.

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