Quem é o gaúcho de 22 anos que venceu o prêmio Sesc de Literatura
Contos de temática LGBT escritos por Tobias Carvalho conquistaram o júri formado por autores como Daniel Galera e Letícia Wierzchowski
Entre os 720 livros inscritos na categoria conto do Prêmio Sesc de Literatura, uma das principais premiações do campo literário brasileiro, a obra “As coisas”, do gaúcho Tobias Carvalho, foi escolhida por um júri formado por escritores como Daniel Galera e Letícia Wierzchowski. O resultado foi anunciado na última quinta-feira, 14. A vencedora da categoria romance é Juliana Leite, do Rio de Janeiro, cujo livro “Magdalena usa as mãos” foi escolhido entre 820 inscritos.
Com apenas 22 anos, o estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) venceu o prêmio com seus contos de temática LGBT. “São contos simples. Mas dizem verdades, dizem coisas eu que queria falar aos outros sobre como é viver sendo gay”, disse Carvalho a VEJA.
O livro de Tobias será publicado ainda neste ano pela editora Record, com uma tiragem inicial de 2.000 exemplares. Estreante, o escritor não esperava vencer, mas usou o prazo do edital como motivação para finalizar o livro que estava em andamento. “Não imaginava ganhar e ser publicado por uma editora grande. Meu plano era enviar o livro para editores independentes, menores, mas que admiro muito”, explica. Agora, Carvalho estará ao lado de autores renomados como João Almino e Cristovão Tezza, que compõem o catálogo da Record.
“Quando atendi a ligação e fui informado de que era o vencedor, passei um bom tempo em choque. Cheguei a não acreditar, pensei que pudesse ser algum amigo meu passando um trote”, relembra Carvalho.
O hábito da leitura foi adquirido graças a sua avó. “Minha avó sempre me deu muito livro e nunca disse não para nenhum que pedi. Ela foi a pessoa que me fez gostar de literatura”, relata. De leitor, Carvalho passou a escritor. Aos dezessete anos, fez sua primeira oficina de criação literária. Foram diversas oficinas realizadas com o escritor Pedro Gonzaga, em Porto Alegre.
Como atividade das aulas, Carvalho precisava escrever contos semanalmente. Alguns desses contos estão no livro premiado. “É muito bom ver os outros opinando sobre seu texto, muda a maneira de escrever. Escrever exige muita dedicação. Todos grandes escritores penaram”, disse, reconhecendo a importância das oficinas literárias.
Seus contos tratam sobre relacionamentos afetivos entre homens. “Escrevo sobre coisas próximas a mim, sobre o cotidiano. A literatura LGBT, além de ser pouco representada, é muito em cima da descoberta, da aceitação. Já está na hora do próximo passo, de escrever sobre as relações como elas são, sobre as complexidades, sobre a dificuldades de ser gay”, explica.
Também natural do Rio Grande do Sul, Natalia Borges Polesso venceu o Jabuti em 2016 na categoria contos com o livro “Amora”, que trata de relações homossexuais entre mulheres. O curador do Jabuti, aliás, pediu demissão após um comentário homofóbico. Carvalho reconhece a importância do prêmio de Natalia. “Felizmente, está surgindo mais espaço para esse tipo de literatura. Existem essas vozes que estão se impondo e achando espaço. Para a Natalia, isso deve ser ainda mais difícil porque é mulher e lésbica, apesar de ser uma escritora incrível”, opina.
Além de Natalia, Carvalho cita outros escritores contemporâneos que admira como Michel Laub, Carlos Eduardo Pereira, Julia Dantas, Luciana Brandão, Carol Bensimon, Samir Machado de Machado e Daniel Galera. Entre as influências nacionais, inclui também a banda goiana Carne Doce. Os autores estrangeiros preferidos variam de Jonathan Franzen, Haruki Murakami a Fiódor Dostoiévski.
O estudante está no último ano da faculdade e, mesmo antes do prêmio, já pensava em se dedicar exclusivamente à ficção após a conclusão do curso. O próximo projeto de Carvalho possivelmente seja um romance.