Oficialmente declarada “capital gaúcha dos caminhoneiros”, a cidade de São Marcos realiza anualmente uma festa em que centenas de caminhões desfilam em procissão e os veículos são abençoados. Segundo o Detran-RS (Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul), São Marcos tem uma frota de 1.513 caminhões o que equivale a um caminhão a cada 13 habitantes, cinco vezes a média nacional, que é de um caminhão a cada 68 habitantes. No município, os caminhoneiros são chamados de “heróis da estrada”. A definição é do presidente da AMSM (Associação dos Motoristas São-Marquenses), Oneide Vilmar Fredrez. A entidade conta com 1.800 associados e está prestando auxílio aos caminhoneiros que decidiram fazer greve.
A cidade de 20.103 moradores, localizada na serra gaúcha, fechou as portas do comércio na semana passada em apoio aos caminhoneiros. Nesta segunda-feira (28), mesmo com o anúncio do presidente Michel Temer (MDB) de redução do preço do diesel na bomba em 46 centavos, pelo menos 300 caminhoneiros ficaram parados à beira da BR-116 que cruza o município, sem obstruir a passagem de veículos.
“O pessoal está parado e não quer sair, é o próprio motorista que quer parar, ninguém impede a passagem. Os caminhoneiros são os ‘heróis da estrada’. Por isso, aquele motorista que veio de outro estado e parou aqui está recebendo alimentação e suporte. Nós sabemos que as famílias estão longe e fica preocupadas”, disse Fredrez a VEJA.
Trabalhando no ramo desde 1994, Fedrez discorda do governo, que alega que existem “infiltrados” na greve dos caminhoneiros. “Não tem nada de infiltrado. É tudo motorista mesmo que está parado e não tem ninguém por trás. Ninguém está acreditando [na versão de que existem infiltrados]. Ontem disseram [pronunciamento de Temer] que está tudo certo, mas não está tudo certo, não”, disse o presidente.
Enquanto os caminhoneiros de São Marcos seguem insatisfeitos, o presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos do RS (Fecam), André Luis Costa, esclarece que as principais reivindicações (diminuição do preço na bomba e isenção do pedágio do eixo suspenso) dos grevistas foram atendidas. “Houve significativo avanço”, defendeu. Para ele, a greve deve ser encerrada. Porém, Costa entende que parte do movimento criou “novas expectativas”. “Algumas pautas são justas, como o preço da gasolina, qualquer cidadão pode defender, mas a pauta dos caminhoneiros estava clara”, opinou.
Em São Marcos, por sua vez, mesmo que a greve se encerre nos próximos dias, os caminhoneiros já têm data marcada para uma grande reunião. Em outubro ,ocorre a Festa da Nossa Senhora Aparecida e dos Motoristas. O evento faz parte do calendário oficial do estado. Em 2017, segundo Fredrez, 5.000 caminhões participaram da “procissão motorizada” e cerca de 55.000 pessoas passaram pela festa.