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Moradores cercam delegacia para linchar suspeito inexistente após boato

Não havia agressor de crianças preso no local como dizia mensagem que circulou no Whatsapp

Por Paula Sperb
Atualizado em 25 out 2018, 17h13 - Publicado em 25 out 2018, 16h26

Mais de cem pessoas cercaram a delegacia de polícia do bairro Mario Quintana, área periférica de Porto Alegre, no início desta semana. O grupo exigia a entrega de um suspeito que sequer existia e não estava preso no local. Vidros foram quebrados, policiais militares ficaram feridos e os manifestantes bloquearam ruas. Os moradores foram até a delegacia depois que uma fake news circulou no Whatsapp. A mensagem dizia que um suspeito de tentar sequestrar crianças na vizinhança estava detido.

Do início da tarde de terça-feira, 23, até o final da noite, o grupo ficou em frente à unidade policial, conta a delegada Vandi Tatsch, que chegou a convidar líderes comunitários para que entrassem na delegacia e inspecionassem o lugar para comprovar que não havia ninguém. “Eles olhavam, saíam e contavam para os demais que não tinham ninguém. Mas logo passava e iniciava tudo de novo. Eles queriam matar alguém, isso se prolongou até a noite”, contou Tatsch.

A onda de boatos sobre sequestro de crianças na região começou depois que uma menina foi encontrada morta em Alvorada, em uma localidade próxima. A Delegacia da Criança e Adolescente (Deca) investiga a morte de Eduarda Herrera, de 9 anos.  O grupo foi movido por um áudio forjado de alguém que relatava que um homem estava preso no local após tentar raptar uma criança no bairro, o que era mentira.

“Eles também são vítimas do ‘diz-que-diz’, eles são vítimas de uma notícia errada”, falou Tatsch. De acordo com a delegada, crimes envolvendo crianças e adolescentes não são investigados no local, mas pelo Deca.

Após a morte da garota, outra fake news culminou em mais de 200 ameaças de morte contra um pai de santo, morador de Canoas. Uma montagem dizia que ele era o assassino de Eduarda, o que é inverídico. A Polícia Civil descarta qualquer participação do homem no caso. As ameaças estão sendo investigadas.

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Carlos Gonçalves Ribeiro Neto, de 47 anos, recebeu mais de 200 ameaças de morte. Ele não tem nenhuma relação com o crime, segundo o chefe da Polícia Civil do estado, Emerson Wendt. A polícia investiga as ameaças e o autor do boato contra o pai de santo. “Me ligavam e diziam que iam cortar minha cabeça, estuprar minhas filhas e minhas netas”, contou a VEJA.

A perseguição a ele começou depois que passou a circular uma montagem mostrando uma foto do pai de santo, com seu número de telefone, e apontando-o como assassino da menina.

“Se não fosse a polícia passar com a viatura na frente da minha casa de meia em meia hora para proteger minha família, não sei o que poderia ter acontecido. Estou preso dentro de casa, minha vida mudou, tive que tirar meus filhos do colégio”, contou à reportagem.

 

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