Crise política e ética, mudanças nas leis trabalhistas e privatizações. O cenário atual do Brasil era descrito pelo gaúcho Leonel Brizola (1922-2004) décadas atrás nos seus famosos “Tijolaços”, textos publicados em jornais nacionais entre 1980 e 1990. Ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Brizola liderou a campanha pela “Legalidade”, em 1961, para garantir a posse do presidente João Goulart, vice de Jânio Quadros, que havia renunciado.
“Ele falava tudo que está acontecendo agora. Ele publicava o que não era dito nos jornais pagando pelo espaço do texto”, diz Leonel Brizola Neto, 42 anos, sobre o avô. Ele é vereador no Rio de Janeiro pelo PSOL e esteve em Porto Alegre para lançar na última sexta o livro Tijolaços com cerca de 40 textos do avô. Leonel, como é chamado para não ser confundido com o ex-deputado federal e ex-ministro do trabalho Brizola Neto, seu irmão mais novo, é também irmão gêmeo da deputada estadual Juliana Brizola (PDT-RS).
Um dos assuntos que o líder trabalhista abordava nos seus artigos, tema considerado atual por Leonel, é o projeto de governo do PMDB, partido atualmente na presidência com Michel Temer. “Meu avô dizia que, ao passo que as questões sociais surgem, o PMDB mostra seu lado conservador. É exatamente o que estamos vendo. O PMDB é o antagonismo da política de Brizola, que prega a educação de qualidade, de primeiro mundo”, comenta o vereador.
Críticas às privatizações, que Brizola chamava de “entreguismo”, também constam na obra. “Privatizar é entregar o patrimônio do povo às empresas estrangeiras. Ele escreveu um texto sobre ‘capitalismo inviável’ porque na década de 1980 ele mostra que o que foi feito na Europa e Estados Unidos foi diferente do que estavam fazendo no Brasil. Lá não entregaram tecnologia e recursos naturais para empresas estrangeiras. Aqui, a gente entregou tudo. Ele mostrava que esse modelo econômico vigente requer miséria, requer que o povo fique na criminalidade e não serve para tirar o Brasil do subdesenvolvimento”, disse Leonel a VEJA.
Vereador em terceiro mandato no Rio de Janeiro, Leonel iniciou sua carreira política aos 19 anos fazendo campanha para o avô, que concorreu a vice-presidente na chapa com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 1998. A eleição foi vencida por Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Porém, nem sempre Brizola apoiou Lula. “Há idas e vindas do Brizola com o Lula. Meu avô teve a grandeza de ser vice do Lula. Mas quando Lula nomeou Henrique Meirelles para presidente do Banco Central, ele disse que não iria dar certo porque ele representava a destruição do estado. A questão do modelo econômico era central para meu avô, que sempre falava das perdas para o país enquanto tivesse a ‘bomba de sugar as riquezas’”, conta o neto.