Venezuela: como Lula e Bolsonaro se parecem (e como se diferenciam)
Se a crise no país vizinho serve para alguma coisa, é para lembrar aos democratas brasileiros o alerta de Hannah Arendt
Bolsonaro defende enfaticamente a democracia na Venezuela. É pura hipocrisia: o ex-presidente passou a vida defendendo enfaticamente ditaduras, no Brasil e em outros países. Uma vez no poder, tentou destruir a democracia brasileira com as mesmas técnicas que o chavismo vem usando nos últimos 25 anos.
Lula e o PT defendem e/ou passam pano para Maduro na Venezuela. É sincero: sempre foram lenientes e complacentes com ditaduras de esquerda, como a própria Venezuela, Cuba, Coreia de Norte, China (que nem pode ser mais considerada bem de esquerda). Ultimamente, estão tolerantes até com a ditadura de Putin, que nada tem de esquerda, mas é antiestadunidense, e isso basta. A hipocrisia foi na enfática defesa da democracia contra a ameaça bolsonarista.
Ou seja, “democracia só é bom quando é bom pra gente”. Útil, mas como instrumento de retórica em discursos vazio no no palanque.
Apesar de democracia não ser um valor nem para Lula nem para Bolsonaro, há uma diferença fundamental entre os dois. Se Lula não é um defensor da democracia, Bolsonaro é seu inimigo declarado e luta para destruí-la. Por isso, em 2022, democratas conscientes escolheram o menor dentre dois males e votaram em Lula contra Bolsonaro.
Se a crise na Venezuela serve para alguma coisa, é para lembrar aos democratas brasileiros o alerta de Hannah Arendt: quando se opta pelo menor entre dois males, é importante não perder de vista que se optou por um mal.
(Por Ricardo Rangel em 05/08/2024)