Parece um paradoxo: Lula, que ganhou um relógio de 60 mil reais, diz que vai devolver. Seu arquiinimigo, Jair Bolsonaro, quer que ele fique com o relógio.
Será um paradoxo?
Não, é só uma malandragem.
Bolsonaro queria que o TCU decidisse que Lula podia ficar com o relógio para fundamentar sua própria defesa; afinal, se Lula pode ficar com o relógio, então Bolsonaro deve poder ficar com suas joias. E Lula quer devolver para jogar água no chope de Bolsonaro.
Mas a decisão do TCU significa que Bolsonaro não desviou as jóias?
Não.
O arcabouço legal quando Lula ganhou seu relógio, em 2005, era diferente de quando Bolsonaro ganhous suas (suas, não, nossas) joias.
Além disso, o TCU não é uma instância do Judiciário, ele é um órgão de assessoria do Congresso. Se a Justiça decidir contra Bolsonaro, como deve decidir, o TCU não terá nada a dizer a respeito.
Por fim, como lembrou Andrei Rodrigues, diretor da Polícia Federal, o desvio das joias (peculato) não é o único crime pelo qual Bolsonaro foi indiciado. Há outros.
Na prática, a decisão não muda nada na situação concreta de Bolsonaro.
Se não muda nada na situação concreta, muda no plano simbólico: a decisão do TCU ajuda Bolsonaro a fortalecer a narrativa de que é perseguido pela Justiça (ainda que o TCU não faça parte da Justiça).
Mal ou bem, é uma coisa na qual pode se agarrar.
A única
(Por Ricardo Rangel em 09/08/2024)