O erro que Marçal cometeu (e quais suas consequências)
Por que a briga entre o candidato do PRTB e Jair Bolsonaro cria uma dúvida insolúvel para os democratas
Nas últimas semanas, Pablo Marçal cometeu alguns erros graves.
No comício de Jair Bolsonaro no 7 de setembro, mandou aliados estenderem no chão uma faixa com os dizeres “Bolsonaro parou. Marçal começou. Pablo Marçal presidente do Brasil”. Para piorar, chegou atrasado, não pôde subir ao palanque e saiu dizendo que tinha sido barrado. Enfureceu bolsonaristas importantes, em particular o pastor Silas Malafaia, principal organizador do evento.
No debate da TV Cultura, em que levou a cadeirada, Marçal deveria ter seguido no debate e faturado de maneira sóbria a agressão. Em vez disso, traiu o modelito machão que explora, preferiu se vitimizar, protagonizando a ridícula pantomima na ambulância que o tornou motivo de chacota em todo o território nacional.
Como se tudo isso fosse pouco, Marçal cometeu o erro talvez definitivo: comparou a cadeirada, episódio inofensivo (ainda que grotesco e lamentável), ao tiro contra Trump e à facada em Bolsonaro, atentados gravíssimos, em que os dois políticos passaram muito perto de morrer.
Na última sexta-feira, Bolsonaro — que estava na defensiva, um tanto atordoado pela arrancada fulminante de Marçal — partiu para a ofensiva, gravando vídeo com fortes ataques ao candidato do PRTB e dobrando a aposta em Ricardo Nunes.
Depois de um crescimento vertiginoso, Marçal se mostra estagnado nas pesquisas das últimas duas semanas. As pesquisas desta semana captarão a reação do eleitorado ao posicionamento de Bolsonaro — e contribuirão para sanar a principal especulação dos analistas políticos:
1) Se Marçal cair nas intenções de voto, será uma indicação de que Bolsonaro mantém sua capacidade de mobilização do eleitorado. Continuará tendo ascendência sobre os políticos conservadores, quem sabe até poderá voltar a ter um futuro político.
2) Se Marçal crescer ou permanecer onde está, será uma indicação de que Bolsonaro não controla mais a extrema-direita. Ou seja, Pablo Marçal é um candidato viável — não apenas agora, mas também em 2026.
Democratas ficarão em dúvida sobre por qual das perspectivas devem torcer. Ambas dão arrepios.
(Por Ricardo Rangel em 23/09/2024)