Nunca antes na história deste país — ou de qualquer outro — se viu coisa igual.
Henrique Mandetta saiu sorridente do Ministério da Saúde e foi para o Palácio do Planalto, onde, como sabia, seria demitido. Acabada a reunião, anunciou, do carro, a demissão. Voltou para o ministério — do qual já não era mais titular — ainda mais sorridente. Aplaudido ao chegar, comandou uma entrevista coletiva como se ministro ainda fosse.
Agradeceu a todos e distribuiu elogios em profusão. Magnânimo, solicitou a seus (ex-)subordinados que colaborassem com seu sucessor. Parecia um presidente bem-sucedido que conclui o segundo mandato e se despede, satisfeito, entregando o cargo ao sucessor que elegeu. Já sem nenhum poder de direito, permitiu-se dar o que chamou de “última ordem”: que os (ex-)comandados não se desviassem um milímetro do que já vinham fazendo. Ou seja, devem colaborar com o sucessor, mas só se ele der ordens iguais às que ele próprio, Mandetta, daria.
Mandetta sai contra a vontade do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal, dos governadores, prefeitos, de muitos ministros, da imprensa e da população em geral. Caso raro e intrigante de ministro demitido por excesso de competência.
A demissão de Mandetta é uma decisão tão equivocada que o próprio presidente, em mais uma de suas analogias romântico-erótico-conjugais, mentiu que foi um “divórcio consensual”, tentando afastar de si a responsabilidade por demitir um ministro tão bem avaliado — e no meio da maior crise sanitária dos últimos 100 anos.
Nas próximas semanas, Henrique Mandetta receberá o crédito por tudo o que der certo na luta contra a Covid-19. Tudo o que der errado será atribuído a Jair Bolsonaro e Nelson Teich. Sua vitória sobre Jair Bolsonaro é absoluta e acachapante.