No ano passado, os brasileiros tiveram que escolher entre um ex-presidente responsável pela implantação de uma política econômica desastrosa e um (falso) outsider extremista com ideias alucinadas.
Esta semana, os argentinos enfrentaram um dilema ainda mais atroz, tiveram que escolher entre o síndico de uma catástrofe econômica muito pior do que a petista e um outsider autêntico, com ideias ainda mais alucinadas do que as de Bolsonaro.
Por razões que a própria razão desconhece, o peronismo escolheu como candidato a única pessoa que Javier El Loco Milei poderia derrotar. Como derrotou.
Muito se especula sobre se El Loco continuará se comportando como loco ou se o cargo lhe dará algum senso de responsabilidade.
“De onde menos se espera, daí mesmo é que não sai nada”, ensinou Itararé. A história corrobora o Barão: de Hitler a Bolsonaro, passando por Dilma e Trump e muitos outros, todos os líderes com ideias alucinadas que chegaram ao poder puseram suas ideias alucinadas em prática.
A dúvida é menos sobre se Milei tentará ir em frente con sus locas ideas do que sobre até que ponto conseguirá fazê-lo. No Brasil, muitos acreditavam que Bolsonaro seria mantido dentro da normalidade pelos militares, por Moro, por Guedes. Ou, no limite, pelo Congresso. Não foi o que se viu. Militares apoiaram a irresponsabilidade do chefe, Guedes se submeteu, Moro acabou caindo. E o Congresso, em troca de verbas, aceitou tudo. Só o STF defendeu a democracia.
É improvável que Milei tenha a mesma sorte de Bolsonaro. El Loco tem contra si dois adversários formidáveis, muito piores do que qualquer coisa que o brasileiro jamais tenha precisado enfrentar.
O primeiro é a calamidade econômica deixada pelo peronismo. O segundo é o próprio peronismo, poderosíssimo e implacável, que não dá refresco a ninguém. Desde o fim da ditadura, Maurício Macri foi o único presidente não peronista a completar o mandato. Javier Milei não parece qualificado para repetir Macri.
Aconteça o que acontecer, a vida dos hermanos vai continuar caótica.
Há algum tempo, o escritor Marcos Aguinis publicou um livro (que merece ser lido) chamado O Atroz Encanto de Ser Argentino.
Bota atroz nisso.
(Por Ricardo Rangel em 20/11/23)