Lula aproveitou o ato do 1º de Maio para pedir abertamente votos em Guilherme Boulos, candidato a prefeito de São Paulo. Foi antes de a campanha eleitoral se iniciar, o que configura crime eleitoral.
Quase ninguém presenciou — o evento, nas palavras do presidente, “foi mal convocado” e fracassou fragorosamente.
Mas a imprensa viu, e deu. E o presidente e o PT se encarregaram de publicar em suas redes. E aí muita gente ficou sabendo.
Inúmeros adversários de Lula e/ou de Boulos reclamaram, xingaram e entraram com ações na Justiça Eleitoral na tentativa de tirar a declaração de Lula do ar. E um monte de gente ficou sabendo.
A Justiça Eleitoral mandou Lula e o PT tirarem o vídeo de suas redes. E muito mais gente ficou sabendo.
A brigalhada a respeito continua, e quanto mais se briga, mais gente fica sabendo.
Neste momento, é quase impossível encontrar um eleitor no município de São Paulo que não saiba que Boulos é o candidato de Lula.
Em 2003, a atriz Barbra Streisand processou um fotógrafo por ter publicado na internet uma foto de sua casa na costa da Califórnia. 420 mil pessoas acorreram ao site onde estava a foto para ver como morava La Streisand. Por causa disso, dá-se o nome de “efeito Streisand” ao fenômeno social em que a tentativa de ocultar uma informação tem resultado inverso e faz com que a informação seja vastamente replicada.
Lula e o PT costumam ser criticados por não entenderem a linguagem das redes, e o fracasso do ato do 1º de Maio é mais uma prova de que a crítica procede. Desta vez, no entanto, acertaram na cabeça.
Lula deve ser condenado a pagar uma multa de até 25 mil reais. Nunca antes na história das campanhas eleitorais deste país terá havido dinheiro mais bem gasto do que esses 25 mil reais.
(Resta o fato: o que pode fazer a Justiça Eleitoral quando o valor da multa é um estímulo à infração?)
(Por Ricardo Rangel em 2/5/2024)