21/11/2023
Lula concedeu à própria mulher, Rosângela Silva, a Janja, a Ordem do Rio Branco. Em seu mais alto grau, o da Grã-Cruz.
A comenda é destinada a personalidades que tenham prestado relevantes serviços à nação. Janja, como se sabe, tem prestado relevantes serviços ao cidadão Luis Inácio Lula da Silva. E a ninguém mais.
Além de absurda, a honraria intensifica o travo ridículo de um presidente que se aproveita do cargo para dar a impressão de que a própria mulher é uma personalidade importante — o que vem acontecendo com bastante frequência.
Lula não é adepto recente da prática de misturar o público com o privado. Eleito presidente em 2002, seguiu ostentando na lapela um bottom de seu partido mesmo em reuniões oficiais com chefes de Estado estrangeiros. Em 2004, Marisa Letícia teve o panache de transformar o desenho do jardim do Palácio da Alvorada em uma estrela vermelha. Para não falar, claro, do mensalão e do petrolão.
O nome técnico dessa atitude é patrimonialismo, isto é, a apropriação do Estado para fins privados. Reconheça-se que é um hábito recorrente no Brasil há séculos (Raymundo Faoro identifica sua origem na dinastia de Avis, no século XIV). E reconheça-se que Bolsonaro era um praticante entusiasmado. Mas nada disso muda o fato de que a conduta de Lula — que se orgulha de não ser Bolsonaro — seja uma vergonha.
Lula, como Bolsonaro e tantos outros políticos brasileiros, não consegue, ou não quer, compreender a diferença entre o público e o privado.
E assim fazem do Brasil uma república de bananas.
(Por Ricardo Rangel em 21/11/23)