O general Freire Gomes, comandante do Exército de março a dezembro de 2022, prestou depoimento à Polícia Federal. Falou por sete horas. Consta que…
- Não deixou pergunta sem resposta.
- Admitiu ter participado de pelo menos uma reunião em que se discutiu o golpe.
- Disse ter agido silenciosamente para impedir o golpe.
- Atribuiu a manutenção dos acampamentos golpistas a uma “ordem” de Bolsonaro.
Duas semanas atrás, o brigadeiro Carlos Baptista Júnior, comandante da Aeronáutica de abril de 2021 a dezembro de 2022, também depôs à PF. Consta que tenha seguido uma linha parecida à de seu par no Exército.
É refrescante que oficiais generais das Forças Armadas brasileiras falem aberta e tranquilamente à Justiça sobre o que viram e o papel que desempenharam no momento em que se conspirava contra a República. É o que se espera daqueles que são responsáveis pela defesa da Pátria.
Militares brasileiros, como se sabe, se orgulham de ter honra, integridade e coragem insuperáveis, falam disso com frequência. É constrangedora a quantidade de militares, com destaque para generais, que vêm se comportando de maneira vergonhosa — quando não patentemente criminosa. Espera-se que outros militares sigam o exemplo de Freire Gomes e Baptista Jr. e mostrem que hombridade não é a exceção (como hoje parece) em nossas Forças Armadas, mas a regra.
Pelo que se sabe, os testemunhos dos dois ex-comandantes corroboram o que disse Mauro Cid: o dois foram chamados (e pressionados, como vimos nas mensagens de Braga Netto) a aderir ao golpe — e recusaram. Freire Gomes teria chegado a alertar ao presidente que, se assinasse a ordem, seria preso. Ora, ninguém assina ordem de botar tanque na rua nessa circunstância.
Mas a ordem verbal e a pressão (inclusive por escrito) para que as Forças Armadas pusessem a tropa na rua não caracterizam tentativa de golpe? Ninguém tem a menor dúvida sobre qual será a interpretação do Supremo a respeito.
(Por Ricardo Rangel em 04/03/2024)