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Caso Marielle: Bolsonaro na berlinda de novo

Por que o ex-presidente tem tanto interesse na investigação do assassinato de Marielle Franco ?

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 Maio 2024, 23h05 - Publicado em 1 ago 2023, 15h27

O delegado Leandro Almada conseguiu a delação de Élcio de Queiroz apenas seis meses depois de a Polícia Federal assumir a investigação do caso Marielle.

A delação de Élcio pôs na berlinda o governador do Rio, Claudio Castro. O governador fez intensa campanha contra a nomeação de Leandro Almada como superintendente da PF/Rio de Janeiro. E nos quase três anos desde que assumiu, as procuradoras responsáveis abandonaram o caso por causa de “interferência externa” e a investigação ficou empacada.

Sem falar que o assassinato do suposto intermediário apontado por Queiroz, Edmilson “Macalé”, não foi sequer investigado pela Polícia Civil de Castro. A Civil bota a culpa no Ministério Público do Rio… cujo Procurador-Geral é indicação também de Castro.

Mas a evolução da investigação traz de volta à berlinda outra personagem: Jair Bolsonaro.

São muitos os elos ligando o ex-presidente ao caso. O primeiro, claro, é que o assassino, Ronnie Lessa, morava no mesmo condomínio onde moravam Bolsonaro e o filho Carlos. Mas há muito mais. E começa antes.

O início da investigação foi turbulento, com testemunhas e evidências plantadas para incriminar um vereador e um miliciano. A obstrução foi descoberta e atribuída a outro político, ligado à milícia. Quando a investigação voltou aos trilhos, o primeiro suspeito foi o ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, um matador de aluguel também ligado à milícia.

Adriano ficou foragido até ser morto na Bahia, em fevereiro de 2020, em uma operação da Polícia Civil do estado com nítidos contornos de queima de arquivo. A viúva de Adriano diz hoje que o contrato chegou a ser oferecido a ele, mas que ele recusou. A irmã de Adriano foi gravada em 2022 dizendo que “ele era um arquivo morto” e “que tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele”.

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Adriano foi amigo da família Bolsonaro por 20 anos. Ganhou medalha do deputado Flávio em 2004, quando estava preso por assassinato, e discurso do deputado Jair em 2005 pedindo sua liberdade. Flavio empregou em seu gabinete a mulher e a mãe de Adriano e as demitiu somente no início da campanha eleitoral de 2018. Quem apresentou Adriano a Flavio foi Fabricio Queiroz, amigo de Jair Bolsonaro há 40 anos, e que foi certa vez acusado de assassinato juntamente com Adriano.

Imediatamente depois da prisão de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, em março de 2019, Bolsonaro começou a pressionar Sergio Moro para que trocasse o superintendente do Rio. Não havia motivo aparente para a troca nem mesmo no plano pessoal: Flávio e Carlos eram investigados por desvio de dinheiro público, mas pela Polícia Civil do estado, sem participação da PF. Em agosto, Moro cedeu e trocou. Bolsonaro também fez intensa campanha para federalizar o caso, mas não conseguiu.

Em seguida o porteiro do condomínio declarou que quando Élcio foi buscar Ronnie no condomínio, teria pedido para chamar a casa de Bolsonaro, e que o próprio presidente teria autorizado sua entrada. Está provado que Bolsonaro estava em Brasília nesse dia e a versão do porteiro foi desmentida, com base na perícia da gravação da chamada, pelas mesmas promotoras que identificaram a obstrução de justiça e prenderam Ronnie e Élcio. Não se sabe se ou por que alguém tentaria envolver o presidente na trama de um assassinato comum.

O presidente, sem autoridade para isso, mandou a Polícia Federal investigar o porteiro, que foi ameaçado de ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional. O porteiro se retratou (mas não foi investigado por ninguém). Bolsonaro ainda mandou a PF tomar o depoimento de Ronnie Lessa, ao qual teve acesso. (Usar a PF para propósitos particulares, naturalmente, é crime).

No ano seguinte, o então governador Wilson Witzel, foi afastado por corrupção e substituído pelo vice (Castro). Algum tempo mais tarde, Witzel deu entrevista afirmando que:

1) Bolsonaro rompeu com ele e passou a persegui-lo quando Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram presos;

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2) Seu impeachment foi sacramentado quando Lindôra Araújo e Augusto Aras deram parecer favorável para que o STF apreciasse o pedido de impeachment;

3) Claudio Castro teria feito um acordo com Bolsonaro para que o presidente tirasse do Rio um delegado da PF que movia contra ele uma investigação sobre corrupção.

Ainda em 2020, Bolsonaro começou a pressionar Moro para trocar o superintendente da PF (pela segunda vez em menos de um ano). “Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o Ministro”, disse o presidente no fim de abril. Moro caiu junto com o diretor da PF. O novo diretor substituiu o superintendente do Rio no mesmo dia em que assumiu.

Claudio Castro tem que explicar sua inação em relação ao caso.

E Jair Bolsonaro tem que explicar muito mais.

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