Jair Bolsonaro tem bons motivos para sonhar com um fim de ano dourado.
Apesar da catástrofe sanitária, da CPI, do desemprego na lua e de um governo espetacularmente ruim, sua popularidade segue surpreendentemente alta.
O inesperado resultado econômico do último trimestre aponta para um crescimento do PIB de mais de 5% no ano. A bolsa bate recorde, o mundo está entrando em um novo superciclo de commodities, aumentando as exportações. No fim do ano, com a retomada econômica e a maior parte da população vacinada, é de se esperar que o desemprego caia.
Até a inflação, desde que não seja excessiva, ajudará o caixa, permitindo aquele assistencialismozinho gostoso, que tanto ajuda governantes populistas.
Porém…
Tem que chover. Senão tem racionamento, o custo da energia dispara, atrapalha a retomada econômica, eleva a inflação, enfurece o eleitorado e derruba a popularidade.
Não pode aparecer escândalo de corrupção. Mas, ao investigar empresários vendedores de cloroquina, agências de publicidade, veículos de comunicação e blogueiros sujos é, exatamente isso que a CPI e a PF estão procurando.
Não pode haver incerteza demais: com incerteza, não há investimento, o crescimento não deslancha, o desemprego não cai, o dólar sobe, e, com ele, a inflação e os juros. E Bolsonaro é especialista em criar incerteza.
A inflação não pode subir demais, senão os juros têm que subir muito, o que derruba o crescimento, encarece a dívida, aperta o caixa, e a popularidade cai. E os sinais da inflação não estão nada bons.
O contágio de Covid tem que cair. Mas estamos entrando na terceira onda, e já tem gente falando em quarta.
Não pode haver um movimento popular forte, de milhões, pelo impeachment. Mas nada impede quem está vacinado de ir para as ruas.
A esquerda e o centro não podem chegar a um acordo. E tem muita gente procurando esse acordo.
Enfim, há motivo para sonhar, mas há muita coisa capaz de transformar sonho em pesadelo.