Luiz Henrique Mandetta avisou a sua equipe que Jair Bolsonaro deve demiti-lo até sexta-feira.
Bolsonaro ignora a primeira lei do RH, que até dono de papelaria em Taguatinga conhece: “não demitirás antes de encontrares substituto”. Anunciada a demissão, tem que demitir, senão se desmoraliza.
Mas, se demitir, perde popularidade, deve abrir mão de boa parte da equipe do ministério da Saúde (exatamente quando se aproxima o momento mais crítico), traz as dificuldades futuras para dentro de seu gabinete e fica com um problema monumental: vai botar quem no lugar?
Consta que Bolsonaro quer um nome “incontestável” para substituir Mandetta. Dada a conduta do presidente, não será fácil encontrar alguém respeitável disposto a aceitar o convite (presidente da República ser esnobado é sempre constrangedor). Se encontrar, tal pessoa exigirá do presidente o compromisso de mudar radicalmente de comportamento.
Se Bolsonaro aceitar, e mudar, admitirá que esteve errado todo esse tempo, se desmoralizará e perderá votos até em seu núcleo mais duro. Se disser que vai mudar, mas continuar quem sempre foi, troca seis por meia dúzia e retoma o balé esquizofrênico de hoje, em que o ministro diz uma coisa, o presidente faz o contrário, e os dois continuam se bicando. (Se não conseguir encontrar alguém respeitável em 48 horas, Bolsonaro pode nomear o secretário-executivo do ministério da Saúde, João Gabbardo, como interino: se ele aceitar, continua o balé esquizofrênico).
Outra hipótese é dobrar a aposta e nomear um terraplanista como Osmar Terra. Nesse caso, afora a provável debandada no ministério, Bolsonaro sabotará completamente toda a política de saúde até aqui e tornar-se-á pessoalmente responsável pelo desastre sanitário que se aproxima. O desgaste será incomensurável e periga selar o impeachment.
Bolsonaro meteu-se, sozinho, num beco sem saída. Há quem acredite que ele joga xadrez. Mas parece que joga jogo da velha — e consegue perder para si mesmo.