O que vai abaixo, em vermelho, é reportagem de Isabel Sobral, da Agência Estado. Segue nessa cor por causa de Carlos Lupi, é óbvio.
O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, reagiu hoje, com palavras duras, à formalização da saída do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), de entidades empresariais que renunciaram à participação após a eleição do novo presidente do conselho. Ontem, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Agricultura e Pecuária (CNA), do Comércio (CNC) e do Sistema Financeiro (Consif) protocolaram no Palácio do Planalto uma carta pedindo ao presidente da República a retirada formal dessas entidades do Codefat.
Vocês se lembram, não? A presidência do Codefat caberia, agora, à CNA. Lupi deu um golpe, inventando duas novas confederações empresariais, e mobilizou os votos das centrais e do governo contra a CNA. Contei a história aqui em detalhes. Em protesto, as quatro maiores confederações empresariais pediram desligamento do conselho. O governo apostava que isso não fosse acontecer.
“Lamento que as entidades tenham saído lideradas pela senadora de oposição e do DEM (Kátia Abreu, que também preside a CNA) que queria transformar o Codefat num Senadinho da oposição”, afirmou Lupi, em entrevista à imprensa em que anunciou os resultados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2008. “Esperava mais independência das entidades, porque a senadora é uma andarilha do ódio, mas eu esperava que isso não contaminasse os demais”, completou.
Trata-se de uma vulgaridade à altura, digamos assim, de Lupi. Mas isso ainda não é o melhor do seu pior. Quando Lupi está na área, não tenham receio de apostar baixo. Observem que ele tenta satanizar a senadora e seu partido: “de oposição E do DEM”, como se ambas as coisas constituíssem um crime político. Paulo Pereira da Silva, por exemplo, é presidente da Força Sindical, que está no FAT e tinha a presidência anterior. É do mesmo PDT de Lupi. O presidente de uma central pode ser deputado federal, mas a presidente de uma confederação empresarial não pode ser senadora? Mais abaixo, ele vai negar que tenha interferido na votação, mas já se traiu: “Kátia queria transformar o Codefat num Senadinho”. Pronto! Confessou.
A acusação é uma estupidez porque o conselho tem 18 assentos: seis centrais alinhadas com o Planalto, seis confederações empresariais (sendo que duas foram inventadas por Lupi) e seis representantes do próprio governo. Ainda que a senadora quisesse usar o Codefat para fazer oposição, não teria votos para isso. A acusação é estúpida!
Lupi comentou ainda que a senadora “está acostumada a lidar com boi no pasto e acha que todo mundo é assim” e voltou a negar que tenha interferido de qualquer forma no processo de sucessão na presidência do Codefat, ocorrido na semana passada. A renúncia das entidades aos assentos no Codefat, que existe há 19 anos, foi uma reação ao que as entidades denominaram de interferência de Lupi no processo de rodízio entre as representações para a presidência do conselho, responsável pela gestão de um patrimônio de quase R$ 160 bilhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Lupi, segundo as entidades, teria pressionado os conselheiros a apoiarem o presidente da recém-criada Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese, para derrotar o candidato indicado pela CNA.
É inacreditável! Por maiores que sejam as divergências entre ambos, esse tratamento é inaceitável. A senadora Kátia Abreu é produtora rural. Não sei se cria bois. Acho que sim. Se criar, certamente trata boi como boi. O que foi que Lupi produziu até hoje além de discursos infelizes e mistificação? Não há mal nenhum em tratar boi como boi. A canalhice está em tratar gente como manada.
Assim é tratado o setor que responde, historicamente, pelo superávit na balança comercial brasileira e por boa parte das reservas que garantem a relativa tranqüilidade do Brasil no cenário da crise: num dia, o ministro do Meio Ambiente chama os produtores rurais de “vigaristas”; noutro, o do Trabalho diz que só sabem “lidar com bois”. De resto, Kátia Abreu é senadora da República, eleita pelo voto popular e filiada a um partido legal, que exerce o sagrado direito democrático de se opor. E aí está o problema: este é um governo que criminaliza a oposição e não a reconhece como parte da institucionalidade.
O ministro atribuiu a derrota das entidades à falta de articulação da CNA com as demais entidades representativas dos empresários no conselho e também a algumas ações anteriores da senadora do DEM, que teriam irritado as centrais sindicais de trabalhadores.
Mentira! As quatro entidades que realmente existem — CNA, CNI, CNC e Consif — votaram unidas, seguido o acordo há anos estabelecido. A dissensão se deu em duas entidades inventadas por Lupi, que só integraram o Codefat em abril deste ano: a Confederação Nacional de Serviços (CNS), de onde saiu o presidente eleito, e a CNTur (Confederação Nacional do Turismo). Para vocês terem uma idéia, a CNS considera Lupi o seu “patrono” e já o condecorou. E é ele quem fala em “independência”!!!
Segundo o ministro, assim que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receber a carta das entidades, provavelmente, ele o chamará para que se discuta o que fazer com relação às vagas abertas no conselho. Ele afirmou que “estão sendo feitos estudos técnicos” para avaliar se será possível indicar outras entidades empresariais, como a CNT (Confederação Nacional dos Transportes) e a CNS (Confederação Nacional da Saúde), que estão interessadas em assumir as vagas deixadas no Codefat.
Pois é… O conselho do Codefat foi ampliado neste ano. A Confederação Nacional dos Transportes é uma gigante perto das quase fantasmas CNS e CNTur. Quando se abriram as novas vagas, por que Lupi preteriu uma confederação que existe em benefício de outras que acabara de inventar? Porque queria dar o golpe. E deu. Já havia tentando no ano passado, quando enviou ao governo uma proposta de decreto que eliminava a presidência rotativa do Codefat. Ficaria sempre com o ministro do Trabalho. A pasta já tem a vice-presidência permanente. Lula não topou. Preferiu o caminho do “golpe democrático”, à moda bolivariana.
Quanto aos possíveis pedidos de auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) nos convênios recentes assinados pelo Codefat, Lupi foi irônico. “As pessoas deviam se informar melhor antes porque o TCU já fiscaliza todas as contas do FAT e já fizemos, inclusive, um convite para que o tribunal tenha assento permanente no conselho como observador”, afirmou. “Além disso, o orçamento de despesas do FAT é votado todos os anos pela Câmara e pelo Senado, se alguns não leem antes de votar, não é culpa minha”, completou.
A retórica golpista é sempre cheia de valentias. Se havia alguma dúvida sobre o que se deu no FAT, agora não há mais.