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Reinaldo Azevedo

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“Sépsis” é mais do que o nome de uma fase; trata-se de uma leitura política

Vocábulo designa organismo tomado por uma infecção, que pede, necessariamente, um remédio pesado

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 22h22 - Publicado em 1 jul 2016, 22h48
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  • Por que o nome da nova fase da operação Lava-Jato é “Sépsis”? É uma boa questão. Isso traduz menos uma especificidade desta fase do que uma avaliação que é de caráter político. Explico. “Sépsis” significa a presença de elementos patogênicos num organismo, especialmente aqueles que provocam pus. Um bom sinônimo é infecção. Eis a origem da palavra septicemia, que é a infecção generalizada. Na origem grega, o vocábulo designa “putrefação”.

    A fase “Sépsis”, como vocês poderão constatar, é espalhada, infesta o organismo todo, tem vários focos. Num possível eixo, há Fábio Cleto, um homem ligado a Eduardo Cunha, mas não só. A febre vem também de outros lugares.

    Um dos delatores, por exemplo, Nelson Mello, afirmou ter doado, por meio de contratos fictícios, R$ 5 milhões em caixa dois para a campanha do senador Eunício Oliveira ao governo do Ceará em 2014. O pagamento teria ocorrido a pedido do lobista Milton Lyra, que foi alvo de buscas determinadas pelo Supremo Tribunal Federal nesta sexta. Ele é ligado à cúpula do PMDB no Senado.

    Em acordo de delação premiada, Mello contou ainda que procurou a Lava-Jato de moto próprio, depois de perceber que “ultrapassara os limites morais e éticos” ao efetuar pagamentos a Lyra. Segundo o delator, ao tomar consciência dos erros, ele teria ficado incomodado e resolveu procurar o Ministério Público. Data vênia, acho história da carochinha. Mas não me perco nisso agora.

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    A dita fase “Sépsis” expressa uma convicção e uma leitura da realidade: todo o organismo político brasileiro está contaminado, nada escapa. Notem que a Lava-Jato vai virando uma matrioska, aquela boneca russa, mas com uma singularidade: de dentro de uma, sempre sai outra, como a original, mas ela também gera rebentos novos.

    A cada dia, o encaminhamento das investigações e das delações — e os procuradores dizem que não se investigou nem a metade — aponta para a inexistência de partidos e políticos ao mesmo tempo viáveis e honestos. É a infecção. É o corpo doente. É a putrefação.

    O Ministério Público Federal, ou parte dele, julga ter o remédio adequado, o único antibiótico cabível, que são as suas 10 Medidas Contra a Corrupção — ainda volto ao ponto. Algumas delas não vigoram nem em ditaduras. Mas a mensagem está dada: se querem salvar o corpo doente, tem de ser um remédio radical.

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    Essa matrioska apresenta ainda outra particularidade. A de verdade tem uma última bonequinha. A Lava-Jato não! É claro que a Sépsis vai levar a novos criminosos, que, por sua vez, podem fazer delação, comprometendo outros tantos. Em breve, será preciso fazer o Manual das Operações de Nomes Significativos da Força-Tarefa.  Mais um pouco, o Brasil vira a Casa Verde de Itaguaí, do conto “O Alienista”, de Machado de Assim. Quase não sobra ninguém fora da cela.

    “Ah, então vamos parar tudo?” Não! Que se investigue tudo. Mas talvez seja o caso de um pouco de método. É só uma consideração. Pessoalmente, não me importo que vá até o último homem…

    Só acho que é preciso tomar cuidado com a ideia da “Sépsis”. Já escrevi aqui uma vez: eu nunca gosto quando questões que dizem respeito à política e à sociedade são associadas a doenças, especialmente as que costumam ser acompanhadas de amputações, né?

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    Melhor é a gente achar, e lutar por isto, que as coisas têm remédio. E que, como dizia Padre Vieira, é sempre bom ter o remédio que remedeia os remédios.

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