Ainda que a muitos seja chocante, não há nada de surpreendente no fato de Marta Suplicy ter-se referido a Fernando Gabeira nos termos em que o fez. Tal comportamento constitui uma espécie de norte ético do petismo: para eles, é a escolha partidária — ou a escolha “do lado” — que define o que presta e o que não presta, que distingue o “bem” do “mal”. Fernando Gabeira participou da luta armada contra o regime militar, a exemplo de Dilma Rousseff? Sim. Mas hoje ele carrega um pecado: não é mais petista — e, na verdade, sempre foi um crítico duro do autoritarismo de esquerda mesmo quando estava no partido. Seu livro mais famoso, “O que é isso, companheiro?”, aborda justamente essa questão.
Como sabem os leitores, e alguns não se conformam com isto, trato Gabeira com bastante consideração não é de hoje, a despeito de enormes divergências. Não é, como diria Marta Suplicy, porque ele está junto com os tucanos no Rio, mas porque considero que ele propõe questões pertinentes. Essa cordialidade evidencia que as diferenças, MESMO GIGANTESCAS, podem ter trato civilizado.
Não para “eles”. Os humanos, na sua mentalidade estreita, se dividem em categorias. Os petistas não defendem exatamente “os negros”, mas os negros militantes; não defendem exatamente os gays, mas os “gays militantes”; não defendem as mulheres, mas as “mulheres militantes”. E, como se nota, não defendem os “guerrilheiros”, mas os guerrilheiros que hoje estão “do lado certo”.
Qual é o sinal que isso emite? Para eles, qualquer coisa é possível, e qualquer ataque é justificado. Basta saber de que lado da trincheira está o “outro”. Não há tese que os petistas não possam abraçar a depender da conveniência. E, por isso, não têm limites.