Por Deborah Berlinck, no Globo:
Ao fazer um agrado ao seu anfitrião na sua primeira visita oficial à Rússia, a presidente Dilma Rousseff, acabou tendo que admitir, publicamente, que futebol não é o seu forte. Saindo de um encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, Dilma anunciou que ia contar uma “pequena história” que explicava a ligação do Brasil com a Rússia.
E citou o Garrincha, repetindo a famosa frase do jogador ao técnico da seleção brasileira da Copa de 1958, Vicente Feola. “Eu vim aqui para combinar com os russos”, disse, referindo-se à estratégia dos dois países de se unirem com China, Índia e África do Sul (os Brics) para defender reforma na governança global e outros temas. A frase de Garrincha — “o senhor combinou com os russos? — foi a resposta que o craque deu quando Feola disse como ele tinha que atuar no campo. Mas a presidente confundiu tudo: Suécia com Rússia, e semifinal de campeonato, com final.
— Quando nós disputamos a Copa do Mundo aqui… (na realidade, foi na Suécia).
Um ministro da comitiva gritou: “Suécia”, e ela continuou:
— …aliás, foi na Suécia… Mas, quando disputamos a final com a Rússia…
Outro sopro ecoou da delegação. Ouvia-se apenas:
— Não foi na final, foi na semifinal!
E Dilma tentou continuar , já rindo, da própria trapalhada:
— Não, foi na semifinal. Você (Putin) veja que nossos ministros estão todos eles muito atentos aos detalhes futebolísticos que envolvem a Rússia e o Brasil.
E Dilma seguiu com a história, justificando:
— Mas a parte interessante não está no jogo, está antes do jogo. O treinador do nosso querido e inesquecível Garrincha disse (ao jogador): “Você entra pela direita, corta para a esquerda, centra a bola e faz o gol”. E isso, contra a Rússia. Ao que o Garrincha respondeu: “Senhor treinador, o senhor combinou com os russos?”. Eu quero dizer que eu vim aqui combinar com os russos, dessa vez.
Dilma, de fato, “combinou” sete acordos de cooperação com os russos, em várias áreas. Só não conseguiu combinar o jogo que todos os exportadores brasileiros de carne esperavam: o fim do embargo russo à carne, que se arrasta desde junho do ano passado. Não foi por falta de tentativa. Mas não houve acordo.