Eu gostava, gosto, de Michael Jackson, deixo claro desde já. No gênero, Thriller me parece mesmo brilhante. Cantava e dançava muito bem. Era também um bom compositor. Essas ressalvas todas porque sei que alguns hão de protestar contra a comparação. Mesmo assim, vou adiante. Lula é o Joe Jackson do PT, aquele pai esquisito que fica sorrindo e posando para fotógrafos enquanto o mundo chora a morte do filho. O pai tirânico. Sim, é bem provável que, sem a obstinação de Joe em fazer dos filhos artistas — e máquinas de ganhar dinheiro —, o menino Michael não tivesse saído do zero. O pai está na origem da disciplina, mas também da sua autodestruição. O roteiro é conhecido.
Michael, tudo indica, odiava o pai, o que significa que estava preso a ele por um laço indestrutível. Nada é mais íntimo e causa mais dependência do que essa relação. O alvo do ódio escraviza o que odeia. E ambos passam a ter a mais perversa das relações. Sendo Lula o Joe do PT, o PT, por óbvio, é o Michael Jackson de Lula.
O “pai” não cansa de humilhar o “filho”, de tratá-lo como um idiota. Impõe-lhe como candidata à Presidência uma figura que, vá lá, ainda é um tanto desconhecida no partido. Obriga-o a mudar de posição da noite para o dia; imprime-lhe mudanças de rumo e de propósitos com base nas próprias necessidades. O partido vai se desfigurando, vai se tornando um monstrengo, derretendo em praça pública. De “preto” e socialista, tornou-se rosado e dependente da boa vontade de gente como Sarney e Renan Calheiros. E Joe nunca está satisfeito. Diz assim: “Fui eu que o fiz, e você me deve obediência”.
Hão de dizer: a transfiguração de Michael se deu quando já estava livre do pai. O diabo é que ele nunca se livrou do tirano. Estava estampado em sua alma, como, acho, o PT jamais vai se livrar de Lula. Sei que os petistas vão protestar, mas o partido acaba no dia em que Lula se for. Já não sabe mais o que é: preto ou branco?; homem ou mulher?; adulto ou criança? O PT é só Lula.
Michael, infelizmente, ficou tão lelé que morreu antes do Joe. Tivesse sido o contrário, não sobreviveria muito à morte do pai. O desaparecimento do objeto desse ódio vital mata também quem odeia. Lula, embora não pareça, eu sei, é finito, como todos nós. Quando ele se for, o PT morre em seguida. Sem identidade, precisa do tirano que o escravize. Ou faz besteira. Convenham: do ponto de vista do puro pragmatismo, brigar com Sarney era uma burrice. Eu torci muito para Mercadante ser bem-sucedido. Mas Joe, como sempre, foi mas sagaz do que o seu monstrengo sem identidade.