O jornalista Wanderley Nogueira, da Jovem Pan, informa em seu blog que Dunga — sim, ele mesmo, Dunga!!! — será o novo técnico da Seleção Brasileira. Eu adoraria que ele estivesse errado, mas errar não está entre os hábitos de Wanderley. Então deve ser isso mesmo. Na verdade, o jornalista tinha essa informação havia alguns dias.
Santo Deus! É o que eu chamaria de triunfo do caipirismo existencial — caipira eu também sou; o caipirismo existencial é outra coisa: é a mentalidade estreita pela própria natureza. Lá em Dois Córregos, a gente está acostumado a larguezas…
O que quer a CBF? Um bedel? Então encontrou! Dunga já recebeu um prêmio por ter sido o “capitão do Tetra”: tornou-se técnico da Seleção em 2006. Ganhou um pouco, perdeu um pouco e foi eliminado nas quartas de final pela Holanda por 2 a 1. De fato, nada que se pareça com os 7 a 1 que o Brasil tomou da Alemanha. O pior resultado foi um 3 a 0 contra a Argentina, placar que foi devolvido na Copa América, vencida pelo Brasil. O melhor resultado foi um 6 a 2 contra a Seleção de Portugal.
Vamos ver: Felipão e Parreira foram campeões do mundo e levaram a Seleção ao pior resultado de sua história. Dunga conquistou um título como jogador e se despediu da Copa nas quartas de final, derrotado pela Holanda por 2 a 1. Por que essas informações? Eu quero saber qual é o compromisso do técnico com o futuro, não com o passado. Por que Dunga agora? A farsa se repete como… farsa!
Vamos ver
Parreira se sagra Campeão do Mundo em 1994 — era o tetra, com Dunga como capitão. Em 1998, há o desastre contra a França, com Zagallo no comando. Vocês se lembram do famoso episódio, nunca suficientemente explicado, do mal-estar de Ronaldo etc.
Aí temos dois anos de desacertos, maluquices e escolhas bisonhas. Até que o comando fosse passado a Felipão, esquentaram o banco Vanderlei Luxemburgo, Candinho e Leão. Em 2002, o Brasil conquista o penta. Em 2006, Parreira assume a Seleção, com o auxílio de Zagallo. Ficou a impressão de que o técnico não tinha controle da equipe, que seria gerida, digamos, por uma turma que gostava mais de farra do que de disciplina, com destaque para Adriano e Ronaldinho. Não só: também teria mantido jogadores já fora de forma, como Roberto Carlos e Cafu.
Então alguém teve a ideia: a Seleção precisa de um choque de ordem. E veio Dunga, com o resultado conhecido. Com a mediocridade também conhecida. De modo impressionante, tem-se a mesma conversa: teria faltado disciplina à Seleção de Felipão: muito jogador com cabelo tingido, com a perna raspada, com a cueca de fora…
Olhem aqui: disciplina é, sim, muito importante. Mas é bom não confundi-la com moralismo tosco. Recomendo mais uma vez uma reportagem da revista alemã “Der Spiegel” sobre o sucesso do futebol alemão. É o anti-Dunga. Em vez de um choque de testosterona bronca, de manual, o futebol alemão recebeu um choque de competência e planejamento. A revista até brinca, afirmando que os jogadores, hoje, são um pouco mais “feminis” do que os antigos “machos Alfa”. Em vez de um comandante esporrento, os alemães preferiram enviar seus técnicos para outros países, como Espanha, França e Itália, para ver como se jogava no resto do mundo.
Não que fosse um futebol malsucedido no mundo quando se tomou essa decisão: eles já eram tricampeões mundiais — agora são tetra. Os alemães que vocês viram no Brasil, interagindo com a população da Bahia, enviando mensagens em português aos brasileiros no Twitter, sorridentes, “moleques”… Tudo isso era parte de um planejamento também de marketing.
Dunga é a contramão da modernidade; é o atraso orgulhoso, machão e, lamento, meio abestado. Pode ganhar ou pode perder a próxima Copa. Só não conseguirá fazer o futebol avançar. Quando o atraso ganha, diga-se, em certo sentido, é pior. A propósito: depois que ele deixou a Seleção, qual é seu currículo para merecer tal galardão?
Sim, a escolha também dá conta da ruindade da CBF. Vejam que coisa: a confederação chegou a flertar com um técnico estrangeiro e acabou escolhendo… Dunga! É o triunfo da falta de rumo e da… caipirice existencial.
Dilma e Dunga na área VIP
Espero que a convivência de Dilma e Dunga na área super-VIP do Maracanã, na final entre Alemanha e Argentina, não tenha definido a escolha. Ali, os dois conversaram de pertinho. Ele até teria cochichado ao pé do ouvido presidencial:
— Eu tô torcendo para nenhum dos dois ganhar.
Dilma então respondeu:
— Essa foi boa! Eu também, Dunga! Mas não dá! Um vai ter de vencer.
Dilma riu tanto com o gracejo que foi às lágrimas.
Seria a escolha de Dunga o desdobramento de um gracejo sem graça?