Lembram-se da Reitoria da USP invadida por aqueles patriotas? Eles não reivindicavam que a Universidade de São Paulo oferecesse condições mínimas de ensino. Até porque a infraestrutura da instituição é bastante apreciável. Não é o caso do campus de Guarulhos da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que está em condições miseráveis. Os porraloucas da USP protestavam contra a… presença da PM no campus, que busca garantir a segurança de todos, para melancolia de alguns maconheiros!
A operação foi acompanhada pela imprensa ao vivo, em tempo real, como se uma operação de guerra estivesse em curso. Os petistas vociferavam: “Vejam como o governo de São Paulo é autoritário”! Pois é… Os estudantes da Unifesp também invadiram uma área da universidade. E também foram desalojados. Leiam com atenção o que informa a Folha. Volto em seguida.
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Oficiais de justiça, acompanhados de policiais militares e federais, cumpriram por volta das 16h desta quarta-feira a reintegração de posse do prédio invadido da Diretoria Acadêmica no campus da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em Guarulhos (Grande SP). Inicialmente os alunos disseram que cerca de 50 pessoas foram retiradas do local. De acordo com a PF, porém, 30 pessoas que se encontravam no imóvel invadido e se recusaram sair foram encaminhadas à Superintendência da PF na Lapa, zona oeste, onde foi lavrado um termo por desobediência à ordem judicial. Os estudantes e a reitoria da Unifesp informaram que não houve violência durante a operação. A reintegração de posse foi determinada após a Justiça Federal receber informações da Unifesp sobre providências adotadas para melhorar o campus de Guarulhos.
Segundo a Justiça, a Unifesp apresentou documentos que apontam que parte das reivindicações feitas pelos alunos está sendo atendida, como início da construção do prédio central, moradia para estudantes, garantia de diversidade e qualidade de alimentação, transporte de qualidade, entre outras. A decisão afirma que “eventuais questionamentos sobre a condução de tais negociações devem ser discutidos em sede própria, não sendo a via do apossamento do prédio público, por meio de greve, hábil para reivindicar critérios ou irregularidades na gestão administrativas da universidade”.
Reportagem da Folha mostrou que a situação no local ainda é precária –o portão de entrada está destruído, o refeitório funciona de maneira improvisada num galpão de madeira e parte dos 3.070 alunos são obrigados a assistir aulas numa escola municipal vizinha ao campus.
Voltei
Reitere-se: a reitoria da Unifesp recorreu à Justiça com um pedido de reintegração de posse, a exemplo do que fez a da USP, e a obteve, circunstância que obriga a polícia a agir. A demonizada — inclusive pelos petitas — PM de São Paulo fez, também neste caso, o que a lei a obriga a fazer: retirar os invasores — com o auxílio da PF. Também eles, como os da USP, tiveram de prestar contas à polícia. A Unifesp está em greve desde o dia 23 de março, e os alunos ocupavam o prédio desde o dia 5 do mês passado.
Como todos vocês notaram, essa desocupação se deu sem alarde, longe dos olhos da imprensa. Não apareceu deputado petista para acusar a truculência da PM — que, com efeito, não houve; nem ali nem na USP.
E quero deixar uma coisa clara: embora a Unifesp esteja mais para um acampamento do que para uma universidade, eu não aprovo manifestações dessa natureza, venham de onde vierem. Não acho que greve de professores ou ocupação de um prédio público sejam respostas aceitáveis, por mais lastimáveis que sejam — E SÃO! — as condições da Unifesp. Não mudo de opinião a depender de quem seja o, como direi?, demandado. Mas também não igualo as diferenças: as revindicações dos invasores da Unifesp se sustentam numa incúria real do poder publico; os alunos estão recebendo menos do que a instituição deveria oferecer. Os invasores da USP, ao contrário, não queriam que as leis que valem para todos fossem aplicadas na universidade, como se integrassem um grupo apartado da sociedade.
Assim, temos que tanto a reitoria da USP como a reitoria da Unifesp usaram o legítimo direito de recorrer à Justiça para que se chamasse a polícia. A diferença é que a polícia, na USP, foi usada para conter rebeldes sem causa — ou com uma má causa; na Unifesp, para conter os exageros decorrentes de uma reivindicação justa. Fernando Haddad não vai se pronunciar?