A Secretaria de Segurança Pública não fez acordo nenhum com o PPC. É mentira. Recomendo que os leitores recorram à reportagem do Estadão, de autoria de Alexandre Hisayasu, e aponte onde está o dito-cujo.
Essa palavra supõe um entendimento entre as partes. Recorram ao Houaiss. Acordo é um “ajuste formal; um pacto, uma convenção, um concerto”. Também pode ser “combinação, consenso, resultado da comunhão de ideias, sentimentos etc.; entendimento recíproco; concórdia, harmonia”. Servem ainda de sinônimos “mudança para adaptação a novas condições; acomodação, combinação, conciliação, consentimento, permissão”. Nada disso aconteceu! Só existiu um acordo na reportagem do Estadão e nos demais veículos que reproduziram seu texto.
Vamos lá. Como existem vagabundos na Internet que fazem a sua fama me atacando (adivinhem pagos por quem…), logo aparecerá o delinquentezinho fazendo cocô como quem pensa: “Ah, está defendendo o PSDB”. À época do suposto acordo, o governador nem era Geraldo Alckmin, mas Cláudio Lembo (DEM), que demonstrou ter ideias muito próprias no tempo em que ficou à frente do governo de São Paulo (de 31 de março a 31 de dezembro de 2006). Aquilo a que o Estadão chama acordo aconteceu em maio.
Vamos aos fatos. Em maio de 2006, durante os ataques de caráter terrorista organizados pelo PCC, houve uma reunião no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes entre Marcola, chefe da facção, a advogada Iracema Vasciaveo, então presidente da ONG Nova Ordem, que, vamos dizer, “dialogava” com o PCC; o delegado José Luiz Ramos Cavalcanti; o corregedor da Secretaria da Administração Penitenciária, Antônio Ruiz Lopes, e o comandante da PM da região, coronel Ailton Brandão.
Em que consistiu o “acordo”? Marcola, que não fala ao celular, pediu para chamar um certo Luiz Henrique, preso de sua confiança, para que transmitisse uma mensagem ao celular a bandidos fora da cadeia: estava bem e não havia sido torturado. Eis o “acordo”. Qual foi a concessão que a Secretaria de Segurança fez ao crime?
É preciso ser mais responsável nessas coisas. É curioso. Até havia pouco, o que se dizia é que, em 2006, a polícia havia entrado numa guerra suja com o crime organizado. Na esteira daqueles conflitos, 564 pessoas foram mortas — 118 em confrontos com forças policiais; 59 eram agentes públicos. Se é guerra suja, nunca foi provado, mas certamente esses não são números de um acordo.
O Estadão chegou a dar essa notícia em 2006, o que nunca ficou evidenciado. Agora, chama-se de acordo um telefonema em que Marcola mandou dizer a seus liderados fora da cadeia que não tinha sido torturado. Tenham a santa paciência! As palavras têm de fazer mais sentido!
Uma das misérias intelectuais, morais e políticas brasileiras consiste em jogar no lixo as experiências bem-sucedidas, preferindo o caminho do erro. São Paulo tem hoje a menor taxa de homicídios por 100 mil habitantes do país: 9,38 — índice considerado não epidêmico pela ONU. Ainda é escandalosamente alto quando se pensa que, em países europeus, esse número fica em torno de UM, ora um pouco mais, ora um pouco menos. Mas é a menor taxa entre os Estados da federação. A do país é quase o triplo: 26 por 100 mil. No Distrito Federal, acima de 30. Em boa parte dos Estados do Nordeste, acima de 40.
Há, desde sempre, um esforço brutal para minimizar o feito de São Paulo, onde a queda da taxa de homicídios em 15 anos passa de 70%. Segundo esquerdistas tão influentes quanto mentirosos, isso derivaria de um acordo da cúpula da polícia com o PCC. É mesmo? É curioso, então, que polícias de outros estados não tenham feito o mesmo. E há ainda quem queira que tudo se deve ao Estatuto do Desarmamento, que entrou em vigor em 2003. Essa gente deveria explicar por que o Estatuto, então, só fez efeito em São Paulo, já que a violência no Nordeste, por exemplo, explodiu nesse período.
Tendo a achar que os resultados se devem à melhora do trabalho da polícia e ao fato de que São Paulo prende muito mais bandido do que os outros Estados. Embora tenha apenas 22% da população, aqui estão 40% dos encarcerados. Prender bandido, e mantê-los presos, custa caro. Mas se economizam vidas. Vale a pena.
Volto ao ponto: eu não preciso que a Secretaria de Segurança Pública negue a existência de um acordo. A reportagem do Estadão, que o denuncia, é eloquente o bastante em provar que não houve acordo nenhum.