Laurent Gbagbo, agora já ex-presidente da Costa do Marfim, foi capturado pelas forças de Alassane Ouattara, internacionalmente reconhecido como o presidente eleito do país. Ele estava escondido num bunker subterrâneo, na residência presidencial. Suas forças foram vencidas pelas milícias de Quattara, com o auxílio de tropas da França e da ONU. Se, na Líbia, as Nações Unidas autorizaram uma intervenção militar em favor de uma grupo numa guerra civil, na Costa do Marfim, os Capacetes Azuis entraram atirando mesmo. A ONU, sob a influência de Sarkozy e Barack Obama, se tornou uma força de intervenção militar. Isso é que é pacifismo! O resto é George W. Bush…
“Se Quattara foi eleito, a ONU não fez bem em garantir a sua posse?”, pode perguntar alguém. A resposta é esta:
a) a ONU vai bombardear todos os países que não respeitarem resultado de eleições?;
b) Quattara também lidera milícias homicidas, que mataram centenas de pessoas mesmo com os Capacetes Azuis atuando no país; a ONU está segura de que foi uma vitória limpa?;
c) o confronto tem características de luta étnica e também religiosa: Gbagbo é cristão; Quattara é muçulmano. A ONU deveria tentar promover a paz, não a guerra.
A situação é tão estupidamente exótica que Frédéric Daguillon, porta-voz das forças francesas que atuam no país, fez questão de declarar que não havia um só francês durante a captura de Gbagbo. É verdade! Os franceses e os Capacetes Azuis foram eliminando os homens do ex-presidente para que os de Quattara avançassem…
Alain Le Roy, o representante das forças de paz (!?) da ONU na Costa do Marfim, afirmou que a captura do ex-presidente e a posse de Quattara são só “o primeiro passo”; agora, disse, será preciso “pacificar o país”. Nem diga! Será facílimo! Especialmente depois que a ONU e os franceses serviram de vanguarda para o avanço das milícias homicidas do novo presidente — não que as do presidente deposto fossem grande coisa. Pensem bem: dado o quadro, franceses e Nações Unidas não se tornaram mesmo juízes confiáveis?
O evento na Costa do Marfim é bem mais importante do que parece. A ONU e os franceses não atuaram ali para impedir que grupos rivas se matassem. Ao contrário: entraram como força militar em favor de um dos lados homicidas. Não é diferente, moralmente, do que se está fazendo na Líbia. Pode-se dizer que, nesse caso ao menos, não há tropas da ONU. É verdade. Mas, dos rebeldes líbios, não se pode dizer nem mesmo que venceram uma eleição, certo?