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Reinaldo Azevedo

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Chalita, um peemedebista da linha “temerista”, tenta transformar dever em conspiração. Ou: Gravata com câmera embutida? Ou: A cara da riqueza

Tá bom. Vamos botar as coisas no seu devido lugar. Alexandre de Moraes, advogado do deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP), é homem experiente. Já exerceu cargo estadual e municipal. Vem dos quadros do Ministério Público. Quando membro do DEM — depois se filiou ao PMDB —, foi primeiro um supersecretário da gestão Gilberto Kassab na […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h46 - Publicado em 28 fev 2013, 16h53

Tá bom. Vamos botar as coisas no seu devido lugar. Alexandre de Moraes, advogado do deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP), é homem experiente. Já exerceu cargo estadual e municipal. Vem dos quadros do Ministério Público. Quando membro do DEM — depois se filiou ao PMDB —, foi primeiro um supersecretário da gestão Gilberto Kassab na Prefeitura, até ser demitido e virar desafeto. Chalita tem o direito (e dinheiro para tanto) de contratar os melhores advogados. Mas nem ele nem seus advogados têm o direito de distorcer os fatos, seja o deputado culpado ou inocente.

Com a sabedoria que lhes é peculiar e a influência consequente, conseguiram emplacar como reportagem relevante (não é!!!), na imprensa, um fato que remete a uma falácia. O fato: o deputado Walter Feldman (PSDB-SP), ora migrando para as hostes marineiras, então um dos coordenadores da campanha de Serra à Prefeitura, encaminhou Roberto Grobman, que acusa Chalita de ter comandado um esquema criminoso, para o Ministério Público. O Estadão viu nisso conteúdo para uma reportagem, que ganhou certo sotaque de jornalismo investigativo. A falácia: não há nada de errado ou de conspiratório nisso, mas apenas o cumprimento de uma obrigação. A campanha tucana à Prefeitura não levou Grobman ao horário eleitoral para detonar Chalita, então candidato à Prefeitura pelo PMDB. Se alguém sabe da existência de um crime ou tem ciência de que alguém diz ter presenciado crimes, acionar o Ministério Público não é exatamente um direito, mas um dever. E Alexandre de Moraes sabe disso muito bem. Não se fez isso à socapa.

PMDB
A tentativa de envolver o PSDB nessa confusão é tática diversionista. Chalita é peça central, em São Paulo, do PMDB. Hoje, é homem de Michel Temer, vice-presidente da República. Tem sido usado para tentar desestabilizar a base de apoio ao governador Geraldo Alckmin em São Paulo, não o contrário. “Ah, mas o Alckmin diz que confia em Chalita…” Vamos aguardar a apuração dos fatos, caso a apuração prossiga (e se espera que sim). A confiança existe até o momento em que deixa de existir. Ou não foi assim — e por obra do trabalho investigativo da imprensa — que SETE ministros deixaram de contar com a confiança de Dilma? Há algumas diferenças entre Alckmin e Chalita: um é classe-média; teve de conferir algumas palestras para ganhar o pão quando estava sem mandato;  o outro é milionário. As versões para tanta riqueza são um tanto nebulosas, confusas mesmo. Em 2011, VEJA publicou uma reportagem sobre a fabulosa multiplicação de sua fortuna: quase 2.000% em 12 anos. A venda dos livros seria parte importante desse ímpeto. Saber detalhes, números etc. desse sucesso se mostrou tarefa impossível: tudo considerado dado sigiloso. Não! Não estou condenando o deputado ou sugerindo que seja culpado disso ou daquilo. Não me cabe.  Estou dizendo que há elementos suficientes para que se faça uma rigorosa investigação. Mas volto ao ponto.

O fato é que o PMDB comprou, em sentido metafórico, é claro!, o passe de Chalita. Ontem, na festa do partido para José Sarney, quando Dilma contou mais algumas lorotas sobre o passado, lá estava o deputado todo pimpão. Exerceu, por exemplo, papel fundamental na guerra religiosa que o PT promoveu na eleição de 2010 — sim, foi o PT que deu início àquele troço. Usou a sua condição de “católico” para as manobras muito pouco pias do petismo. Agora que a chapa esquentou, parece haver certo esforço de torná-lo apenas um tucano desgarrado, dissidente. Não! Chalita é um peemedebista da linha “temerista”, com serviços prestados ao dilmismo. “E se fez lambança quando secretário de um governo tucano?” Que pague, ora! Qual a dúvida?

Documentos e suposta ameaça de morte
Grobman, que acusa Chalita, entregou nesta quarta ao Ministério Público documentos digitalizados com o que seriam indícios ou provas de ilegalidades cometidas por Chalita. Vamos ver. Entra na história até uma “gravata com câmera embutida, sem fio e com receptor”. Será que Chalita não usa aquelas suas gravatas apenas para ficar bonito? Ele também diz ter sido ameaçado de morte. Leiam trechos da reportagem de Bruno Boghossian, no Estadão Online.
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O analista de sistemas Roberto Grobman, delator do deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP), entregou nesta quarta feira, 27, ao promotor de Justiça Nadir Campos Junior um CD com documentos digitalizados que comprovariam improbidade do ex-secretário de Educação.

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São cópias de e-mails e números de contas bancárias por onde teriam transitado valores em favor das empresas Valverde Audio e Vídeo e Foneplan Comércio. A primeira, afirma Grobman, instalou automação no apartamento de Chalita e recebeu US$ 79.723 no exterior, na conta 005498139630 do Bank Of América. O valor, disse Grobman, saiu de duas contas de uma offshore do empresário Chaim Zaher, do Grupo COC, no Safra National Bank de Nova York e de Miami. A Foneplan recebeu R$ 93.237 no Brasil para fornecer telões. “Foi propina para Chalita, que prometeu contratar empresas do COC para prestar serviços à Fundação para o Desenvolvimento da Educação ou para a própria Secretaria de Educação”, declarou Grobman.

Grobman também entregou cópias de e-mails que ele próprio encaminhou em novembro de 2003, dias 7 e 12, a Paulo Barbosa, então secretário-adjunto de Educação do governo Geraldo Alckmin. As correspondências se referem à “compra de produtos de segurança” para Chalita, incluindo “gravata com câmera embutida, sem fio e com receptor”, peça cotada em US$ 575, além de um telefone celular com câmera transmissora embutida ao preço de US$ 595. No e-mail, Grobman pede autorização de Paulo Barbosa para efetuar a aquisição.

Nadir disse haver “fortes indícios” contra Chalita de improbidade administrativa e enriquecimento ilícito e que pretende investigar acusações de que o parlamentar teria recebido pagamentos de empresas quando era secretário de Educação de São Paulo, entre 2002 e 2006. O promotor pedirá aos Estados Unidos o rastreamento do pagamento que teria sido realizado para fornecedor de Chalita. “Isso reforça a perspectiva de enriquecimento ilícito, a partir da compra e reforma do apartamento”, disse o promotor.

Nadir também afirma que há indícios de que o grupo educacional COC pagou R$ 600 mil por uma reforma no apartamento de Chalita e que comprou 34 mil cópias de um livro do deputado. Na mesma época, a Secretaria de Educação teria firmado contrato de R$ 2,5 milhões com a empresa.
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Chalita também será investigado por suspeita de desviar de suas funções duas servidoras da Secretaria de Educação para que elas escrevessem dois livros publicados em seu nome, “Pedagogia do amor” e “Mulheres que mudaram o mundo”.

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O promotor suspeita que Chalita teria enriquecido ilicitamente no cargo, o que seria comprovado pela compra de dois apartamentos: um em Higienópolis, em São Paulo, por R$ 4,5 milhões, e outro no Rio de Janeiro, por R$ 2,5 milhões, em 2005. “Se ele não tinha recursos suficientes para adquirir esses dois apartamentos, há hipótese de enriquecimento ilícito e caminha-se para a abertura de uma ação civil”, disse o promotor.
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O promotor também vai analisar doações eleitorais feitas nos últimos anos às candidaturas de Chalita e de Paulo Alexandre Barbosa, então secretário-adjunto da Educação e atual prefeito de Santos pelo PMDB. O objetivo é identificar pagamentos que teriam sido feitos por fornecedores da Secretaria de Educação.

Nadir disse estar sofrendo pressão de deputados estaduais da Assembleia Legislativa de São Paulo e de deputados federais. “Independentemente de qualquer tipo de pressão, nós somos disciplinados.” Ele falou sobre suposta prescrição das infrações atribuídas a Chalita. “Não nos cabe indagar por que esses fatos surgiram seis anos e meio depois. São imprescritíveis, segundo a Constituição Federal, e serão investigados salvo se meus superiores disserem que não posso investigá-los.”

Grobman, que diz ter trabalhado como assessor informal na secretaria, afirma que Chalita recebeu R$ 50 milhões em propina de empresários que assinaram contratos com a pasta. O analista confirmou que foi levado em outubro ao Ministério Público pelo jornalista Ivo Patarra, que à época trabalhava na campanha de José Serra (PSDB) à Prefeitura de São Paulo.
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Ameaças

Grobman contou que foi ameaçado, no último dia 4, em Perdizes, onde mora. Um homem “calvo, que calçava tênis nike, calça jeans e camisa marrom, apontou para o delator um revólver envolvoto em jornal e lhe teria dito. “Para de falar.” Desde esta quarta feira, 27, Grobman já está sob proteção da assessoria militar do gabinete da Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo.
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